- O Estado de S. Paulo
Quando servidores de carreira encontram e punem a corrupção de alguns membros isolados de um partido político, normalmente esses são expulsos para proteger o partido. No caso do PT, fez-se o contrário: os acusados e condenados são protegidos à custa da sustentabilidade do próprio partido. O mecanismo central é a distorção da realidade. Do mensalão à denúncia de Lula, qualquer coisa é lida da maneira que mais reforçar a teoria da conspiração.
Se denunciasse rapidamente antes de aguardar ter provas suficientes, a força-tarefa da Lava Jato seria taxada de seletiva e inquisitória. Já se aguarda pacientemente a oportunidade correta para denunciar, enquanto produz as provas necessárias, está perseguindo o ex-presidente sem nunca achar nada.
Se o MP protocolasse denúncia enxuta, sem dar explicações do contexto à população, estaria agindo de forma obscura. É leviano acusar um ex-presidente da República sem total transparência. Então os procuradores produzem denúncia longa e exaustiva, submetem acusação bem fundamentada a uma entrevista coletiva para a imprensa e usam até PowerPoint para tornar a explicação mais clara para a sociedade civil. Acabam rotulados de midiáticos e sensacionalistas.
Vemos um esforço para reduzir toda a história de um partido a um punhado de pessoas. Negam o papel de todos os demais membros nos méritos – e o PT tem muitos, atuando na oposição e no governo. Inviabilizam a renovação do partido para poder martirizar Lula e outros poucos intocáveis. Com isso, privaram o Brasil de um partido progressista grande e forte, sem o qual a democracia não é possível.
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*É professor da FGV Direito Rio
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