• Associação Nacional dos Procuradores repudiou o que chamou de ‘deturpação de esclarecimentos’
“É natural que investigados reajam. Vamos continuar com serenidade e equilíbrio” Deltan Dallagnol Procurador da República
Cleide Carvalho e Renato Grandelle - O Globo
-CURITIBA E RIO- O procurador Deltan Dallagnol minimizou a reação de Lula em relação à denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal, anteontem, contra o ex-presidente, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em palestra na Semana da Democracia, evento realizado em Curitiba, Dallagnol voltou a rebater as críticas de que a investigação é partidarizada, ao afirmar que a Lava-Jato tem mais de 300 pessoas envolvidas, técnicas e concursadas, e que são apenas “pais de família” fazendo o seu trabalho.
— É natural que as pessoas investigadas reajam. Isto não nos surpreende, encaramos com naturalidade. E quando essas pessoas são poderosas, econômica e politicamente, a reação toma vulto. Vamos continuar caminhando com serenidade e equilíbrio — afirmou o procurador.
Dallagnol comparou a reação às mesmas que ocorreram após a 7ª Fase da Lava-Jato, que levou à prisão executivos das principais empreiteiras do país.
— Naquela época, a reação foi dizer que estávamos cometendo uma série de abusos, excessos, e que não tinha nenhum crime por parte dos empresários — recordou o procurador, acrescentando que as empresas passaram afirmar que foram vítimas de extorsão: — É uma estratégia de comunicação.
O procurador afirmou que o mesmo se repetiu quando a Lava-Jato atingiu as empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, quando a imprensa foi chamada por executivos para dizer que os procuradores tinham apenas indícios e presunções, sem provas. Na época, Dallagnol rebateu afirmando que a Lava-Jato já tinha provas de depósitos feitos pelas empreiteiras no exterior, em contas de executivos da Petrobras que haviam sido corrompidos e que reconheceram ter recebido propina.
Em nota, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) repudiou o que classificou como “deturpação de alguns dos esclarecimentos prestados pelos procuradores da Lava Jato”, na apresentação da denúncia contra Lula. A ANPR afirmou que “não se configura legítima qualquer manipulação ou deturpação de frases ditas no exercício do dever de esclarecimento à população” e que “configura-se discurso político e/ou em estratégia de defesa, sem compromisso com a verdade, deturpar falas dos procuradores da República”.
Ainda ontem, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou que o ex-presidente Lula repete um “equívoco recorrente” do PT de “vitimização”:
— Não há o mea-culpa, a grandeza de compreender que cometeram equívocos graves e ilegalidades
O senador estava acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não comentou a denúncia do MP e disse que Lula “passa por um momento difícil”:
— Ele está desabafando. Eu lamento sinceramente que uma pessoa com sua trajetória chegue a este momento de dificuldade.
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