• Frase não dita por procuradores é usada para desqualificar denúncia
Flávio Freire - O Globo
-SÃO PAULO- Bastou a internet reverberar uma frase atribuída aos procuradores da Lava-Jato, mas não dita durante apresentação da denúncia contra o expresidente Lula — “não temos provas, mas convicção" — , para a polêmica ser instalada. Desde anteontem, internautas passaram a acusar os procuradores de sustentar a denúncia contra o petista sem prova cabal. O próprio Lula usou ontem o mote para tentar desqualificar o trabalho dos investigadores.
Embora a polêmica tenha incendiado as redes sociais, não houve, por parte dos procuradores, relação direta entre o que seria falta de provas e a convicção de que Lula tem responsabilidade sobre o esquema de corrupção. No discurso, Lula chegou a ironizar o que teria sido dito na coletiva do Ministério Público Federal (MPF).
— Não tenho prova, mas convicção. Eu tenho convicção de que quem mentiu está numa enrascada, que setores da imprensa que mentiram vão ter que construir uma versão. Continuem me atacando, estarei aqui, sem ficar com raiva (...) Continue escrevendo, continue falando, a história mal começou — discursou o petista, ontem, diante de uma plateia de militantes.
A ironia, no entanto, não encontra sintonia fina no que foi dito pelos procuradores. Ao discorrer sobre o crime de ocultação de patrimônio, o procurador Roberson Pozzobon havia dito:
— Precisamos dizer, desde já, que em se tratando de lavagem de dinheiro, ou seja, em se tratando de uma tentativa de manter as aparências de licitude, não teríamos aqui provas cabais de que Lula é efetivo proprietário, no papel, do apartamento, pois, justamente o fato de ele não figurar como proprietário do triplex do Guarujá, é uma forma de ocultação e dissimulação da verdadeira propriedade. O procurador reforçou que o contrato para armazenamento do acervo presidencial também não foi assinado por Lula:
— Da mesma forma, na personalização e na decoração (do apartamento), nos contratos com empresas que forneceram móveis e executaram reformas, não são contratos onde Lula e a família figurem ostensivamente, mas sim por intermédio da construtora OAS. O contrato de armazenamento daqueles bens do ex-presidente não foi celebrado em seu nome, mas de uma empresa que estava ali concedendo vantagens indevidas, pagando propina de forma lavada.
Lula chegou a usar de ironia quando tratou da polêmica Lembrou a apreensão do helicóptero de Gustavo Perrela, exdeputado. Na ocasião, a polícia encontrou 400 quilos de cocaína na aeronave.
— Ali, eles (procuradores do caso) tinham prova, mas não convicção, e liberaram.
Também durante apresentação da denúncia o procurador Deltan Dallagnol reforçou o trabalho sobre as provas adquiridos ao longo do processo:
— Provas são pedaços da realidade que geram convicção sobre um quadro. As provas permitem formar a figura de Lula no comando do esquema. As provas levam a crer, acima de qualquer dúvida, que ele era o maestro da orquestra criminosa.
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