• Com 77 novos delatores, depoimentos irão pelo menos até o fim de 2017
Alan Gripp - O Globo
Não é trivial quase 80 executivos contarem o que sabem. Prognósticos sobre o fim do mundo surgiram tão logo foi confirmado o acordo de delação da Odebrecht. Não se sabe se é para tanto. Por outro lado, os poucos políticos que se arriscaram hoje a falar sobre o assunto repetiram variações de “o país segue normalmente”. Nada mais falso.
A Odebrecht é uma gigante mundial. Chegou a faturar mais de R$ 100 bilhões num único ano, superando o PIB de alguns países médios. A empreiteira está em mais de duas dezenas de países. Liderou obras tão diversas como aeroportos, rodovias, metrôs, usinas, estádios de Copa, saneamento. E, como já se sabe, distribuiu propinas em muitas delas.
Não estamos diante de algo trivial quando 77 executivos de uma empresa desse porte aceitam contar o que sabem. O acordo mais do que dobra o número de colaboradores até aqui e, considerando o tempo que os depoimentos levam para resultar em ações práticas, pode-se dizer que a Operação Lava-Jato continuará na quinta marcha, ao menos, até o fim de 2017.
Espera-se da mãe de todas as delações que esclareça, enfim, o papel da empreiteira nas obras feitas no tríplex e no sítio preparados para o ex-presidente Lula. Não se supõe que os procuradores teriam fechado acordo com a Odebrecht sem que a empreiteira acrescentasse informações importantes sobre o tema, dado o estado avançado dessas investigações.
Também já se sabe que as acusações serão endereçadas a mais de uma dezena de governadores (fala-se em 13), o que poderá replicar no país o que ocorreu na semana passada no Rio de Janeiro, quando o ex-governador Sérgio Cabral foi alvo da Operação Calicute.
A grande questão, portanto, é o tamanho do estrago que a delação de Marcelo Odebrecht e cia causará no governo Temer. Algum impacto haverá, a questão é saber a extensão dos danos. O presidente será atingido diretamente? Assessores seus (além dos que já caíram) serão feridos de morte? O estrago no Congresso será suficiente para tumultuar o ajuste fiscal? O levante político contra a Lava-Jato será fortalecido ou enfraquecido?
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