Após sete anos de negociação entre 12 países, o acordo de comércio Parceria Transpacífico (TPP, na abreviação em língua inglesa) ameaça tornar-se letra morta nas primeiras horas de Donald Trump na Casa Branca, em 20 de janeiro.
O presidente eleito republicano declarou que vê a TPP como um "desastre potencial" para seu país. Ele planeja substituí-la por tratados bilaterais melhores para as firmas e os empregos nos EUA.
Na atual composição, o grupo reúne dois quintos do PIB mundial. Inclui nações de peso como Japão, Canadá e Austrália, mas foi desenhado para excluir a China. Na visão do presidente democrata Barack Obama, serviria para conter a influência de Pequim na Ásia.
A aposta de Trump é arriscada. Em troca de um benefício improvável para trabalhadores americanos, a saída do acordo pode em realidade abrir espaço para a China liderar uma zona de livre comércio no Oriente com arquitetura sob medida para seus interesses.
A saída abrupta de cena no Pacífico sinalizaria a aliados, além disso, que os EUA não são confiáveis. O desinteresse de Trump pela Ásia aumentará a apreensão no Japão e no Vietnã, que têm boas razões históricas para temer o poderio militar de Pequim.
A renúncia à TPP faz parte das promessas populistas de Trump para "tornar a América grandiosa de novo". Abrangem uma tarifa de 45% para produtos chineses e renegociar o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta).
Na visão simplificadora de Trump, basta implementar uma política protecionista para que os EUA internalizem empregos gerados por suas empresas no exterior.
Em termos práticos, a estratégia antiglobalização tende a prejudicar as próprias firmas americanas, pois elas decidem produzir noutros países para baratear os custos, e não por falta de patriotismo. Há riscos também para consumidores, hoje habituados a pagar preços baixos por importados que substituíram a manufatura local.
As chances de o tiro sair pela culatra não são desprezíveis —por exemplo, se as empresas percorrerem o caminho inverso ao desejado e transferirem mais operações para ambiente menos hostis.
Dado o ineditismo da atual transição política americana e o temperamento errático do presidente eleito, contudo, nada está ainda talhado em pedra.
Desistir da TPP talvez seja a parte mais fácil, já que o acordo não havia sido ratificado pelo Congresso, mas seguir em frente com a promessa de renunciar à globalização, deixando a Ásia em segundo plano, é uma das bravatas de Trump que pode soçobrar sob o peso dos interesses de seu próprio país.
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