Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Um dia depois de seus 78 executivos assinarem acordo de delação com a Procuradoria Geral da República, o que pode ocorrer nesta quinta (24), a Odebrecht vai publicar um anúncio de duas páginas nos principais jornais do país com um pedido de desculpas à população pelo fato de o grupo ter-se valido de corrupção para fechar contratos de obras públicas.
O anúncio da Odebrecht, segundo a Folha apurou, vai dizer que os acordos de delação e de leniência significam uma virada de página na história da empreiteira. Acordo de leniência é uma espécie de delação para empresas.
Sem isso, a Odebrecht poderia ser proibida de fazer obras públicas.
O grupo vai informar ainda que reforçará os mecanismos de controle ético, chamado nas corporações de "compliance", para evitar que seus executivos se envolvam com práticas ilícitas.
A intenção da Odebrecht é mostrar que a empresa errou e irá se reinventar depois da Lava Jato. Uma das expectativas do grupo é que sua atitude influencie outras empreiteiras e ajude a reduzir o grau de corrupção nos negócios públicos no país.
Porte para isso o grupo tem. A Odebrecht é a maior empreiteira do país, com uma receita de R$ 132 bilhões no ano passado.
O acordo da Odebrecht deve ser um dos maiores do mundo segundo vários critérios: pelo número de executivos que confessaram práticas criminosas (78), pelo valor da multa a ser paga (entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões) e pelo números de políticos e agentes públicos que serão delatados. O valor será dividido entre Brasil, Estados Unidos e Suíça, porque a Odebrecht também praticou crimes nesses países.
ANTECIPAÇÃO
A estratégia do grupo é antecipar-se a um eventual ordem do juiz Sergio Moro para que a Odebrecht peça desculpas, tal qual o magistrado fez com a Andrade Gutierrez.
Em maio deste ano, quando homologou os acordos de delação dessa empreiteira, Moro obrigou-a a veicular anúncios por considerar que a empresa dissera inverdades sobre a Lava Jato.
Antes de fechar o acordo de delação, a Andrade Gutierrez publicara um anúncio com críticas duras à operação, no qual dizia que a prisão de seus executivos "foram desnecessárias e ilegais" e que não havia provas de que participara de um cartel que atuava na Petrobras.
Posteriormente, a Andrade Gutierrez reconheceu que pagou propina não só na Petrobras, mas em obras da Eletronorte, como a usina de Belo Monte, em estádios da Copa de 2014 e na ferrovia Norte-Sul. Confessou também que dividia obras com outras empreiteiras na estatal de petróleo e outras empresas públicas, o que caracteriza a prática de cartel.
Moro afirmou na decisão que a intenção da Justiça ao obrigar a Andrade a publicar o anúncio não era "humilhar a empresa".
"Nunca a ação da Justiça teve esse propósito. Ao contrário, o reconhecimento público dos ilícitos, acompanhado da publicização de que a empresa está tomando providências sérias para repará-los, somente trará ganhos à reputação da Andrade Gutierrez", afirmou.
A Odebrecht nunca publicou anúncios contra a Lava Jato, mas seus advogados adotaram uma estratégia extremamente agressiva contra o juiz Moro.
O resultado é que o acordo da Odebrecht é considerado um dos mais duros em termos de multas e penas.
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