Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer decidiu reforçar a participação do PSDB no governo, dando início a um movimento que deve desencadear a reforma do ministério e pode ser considerado como o embrião para uma aliança eleitoral em 2018. O assunto foi a peça de resistência do almoço que Temer ofereceu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na sexta-feira, no Palácio do Planalto, e já se encontra em fase de implementação pelos operadores políticos do Palácio do Planalto. FHC tomou a iniciativa de propor a ampliação da presença do PSDB, prontamente aceita pelo presidente.
Ontem mesmo o secretário geral do Programa de Parceria e Investimentos (PPI), Moreira Franco, teve um almoço para tratar do assunto com o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Moreira, um dos homens de confiança de Temer, é o principal inspirador da ofensiva feita pelo governo Temer, nos últimos dias, para retomar a iniciativa política. Ele assumiu oficiosamente algumas tarefas do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), cujo cargo continua vago e pode ser ocupado por um tucano na nova concertação política do governo.
Na conversa entre Aécio e o secretário Moreira Franco, o Valor apurou que o presidente do PSDB concordou com a ideia de FHC de maior presença do partido no governo, mas ressaltou que os tucanos não querem ter apenas os cargos, mas participar da formulação das políticas de governo. Moreira teria aceitado a ponderação de Aécio. Até porque o PSDB é o patrono do ajuste fiscal, a prioridade do governo Michel Temer.
Atualmente, o PSDB tem três ministros no governo: Alexandre Moraes (Justiça), José Serra (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades), cada um representando um dos três líderes que disputam a hegemonia na legenda: respectivamente, Geraldo Alckmin, o próprio Serra e Aécio. A participação dos tucanos ficou um tanto menor com a nomeação do senador Romero Jucá (PMDB-RR) para líder do governo no Congresso, o que esvaziou o líder do presidente no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP).
A conversa dos interlocutores do governo com o PSDB ainda não entrou na fase da discussão dos cargos, mas a Secretaria de Governo, vaga com a saída de Geddel, está na mesa: o PMDB da Câmara já informou o Planalto que considera o cargo da bancada e por isso quer indicar o nome do substituto. É esse tipo de conflito que o presidente gostaria de evitar, se der início à reforma, pelo menos até a eleição para presidente da Câmara, a fim de fazer a escolha num ambiente menos conflagrado.
O acordo de Temer com o PSDB tem como pressuposto que o presidente não tentará a reeleição para o cargo em 2018, mesmo que consiga inverter a curva da popularidade do governo. Embora líderes do PMDB digam que o partido deveria ter candidato próprio em 2018, o fato é que a legenda não tem um nome para apresentar, a não ser o do próprio Temer. Desde 1994, o PMDB não tem candidato próprio a presidente. Temer não gostou de declarações de FHC sobre seu governo, mas sabe que para manter a governabilidade e reforçar as linhas de defesa do Planalto precisa dos tucanos. Ao contrário do PMDB, o PSDB tem quadros com maior musculatura para tocar o governo.
O presidente está sendo pressionado pelos partidos a fazer já a reforma do ministério e a tomar medidas econômicas de impacto. O presidente mantém como prioridade o ajuste fiscal e só gostaria de falar de reforma no próximo ano, combinando as mudanças no gabinete à eleição para a presidência da Câmara. Mas neste caso pode ser forçado a precipitar o movimento. Além da cadeira vaga de Geddel, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também se fragilizou politicamente no governo, por causa do áudio de uma conversa mantida entre ele e o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero sobre o pleito de Geddel para liberação da obra embargada pelo Iphan em Salvador (BA).
Fontes próximas a Temer disseram ao Valor que Padilha não corre riscos no cargo. Quando a posição de Geddel ficou insustentável, na terça-feira da semana passada, Temer quis demitir o ministro, seu amigo de 25 anos, mas Geddel chorou, e alegou que nada fizera de errado e o presidente resolveu mantê-lo. Só demitiu quando sentiu que a permanência do ministro era uma ameaça a ele próprio.
A articulação para reforçar a presença do PSDB ocorre num momento em que o governo Temer perdeu capital político, com a denúncia de que o núcleo do governo, incluindo o presidente, pressionou o secretário Calero a retirar o embargo sobre uma obra de interesse do ministro Geddel. A resposta do presidente foi o pacto que fez com os presidentes do Senado e da Câmara contra a aprovação de um projeto de anistia ao caixa dois, manobra em curso entre os deputados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário