• A pressão sobre os preços fica menor, e isso deve garantir uma redução mais profunda da Selic em janeiro; somada à aprovação da PEC do teto, o otimismo pode voltar
Pratica-se no Brasil, historicamente, o esporte da caça ao ministro da Fazenda da vez, sempre quando a economia não cresce. Mesmo que haja situações muito específicas, como a atual: a tarefa de recolocar nos trilhos uma economia cuja estrutura fiscal foi destroçada por atos de vontade do Planalto é inédita.
Houve expectativas econômicas otimistas com a saída de Dilma e do lulopetismo do poder, mas que não se confirmaram devido, entre vários fatores, à lentidão no processo de aprovação no Congresso de ajustes estruturais necessários a reequilibrar as finanças da União. Porém, não será a troca de Henrique Meirelles que resolverá a questão, embora o governo não deva mesmo ficar apenas à espera de ajustes macro para animar a economia.
O clima de mal-estar em torno da Fazenda também atingiu o Banco Central, de Ilan Goldfajn, de quem passaram a ser cobrados cortes mais fundos na taxa básica de juros, a Selic. Já foram feitos dois, cada um de 0,25 ponto percentual, com a taxa chegando a 13,75% — das mais elevadas do planeta, enorme barreira à retomada do crescimento. O relativo mau humor com o BC também se deveu ao fato de que a inflação este ano está em firme tendência de baixa, o que significa, na prática, que os juros reais encontram-se em alta. Um contrassenso, diante da necessidade de se retirar o país da mais grave recessão da sua história.
A confirmação desta tendência desinflacionária, na divulgação, ontem, do IPCA de novembro, de apenas 0,18%, é um dado que pode ajudar a mudar esta atmosfera para melhor.
Ilan e seus diretores têm grande respeito do mercado, mas se supõe que, ao substituírem um grupo cuja credibilidade foi posta em xeque pela própria presidente Dilma, assumidamente contrária à autonomia do BC, entenderam que precisariam ser muito conservadores no manejo da política monetária. Para não haver dúvida sobre sua independência. Pode ser.
Seja como for, a inflação de novembro, com a possibilidade de o IPCA fechar o ano no teto da meta (6,5%) — quando estava na faixa dos 10% no início do exercício —, serve quase como garantia de que, na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), em janeiro, a diretoria do BC ampliará o corte dos juros para 0,5 ponto percentual, primeira de uma série de reduções substantivas. Aliás, a tendência de desaperto monetário está registrada na ata da última rodada do Copom.
É até possível que, aprovada de forma definitiva a PEC do teto na terça que vem, o primeiro pilar do ajuste fiscal, volte algum otimismo diante do futuro da economia, e até leve o BC a ir um pouco além no esperado corte da Selic no mês que vem.
Nada, porém, terá solução instantânea, mágica. Se a PEC do teto é crucial, sem se conter a hemorragia financeira do sistema previdenciário, o limite total para as despesas, de que trata a emenda constitucional, virará letra morta.
Também por isso, o governo não pode ficar apenas na dependência das emendas constitucionais. Deve estimular o cumprimento de uma agenda da microeconomia, para facilitar a vida das empresas. Não é apenas tratar do destravamento de investimentos, por meio da realização de licitações e concessões sustadas pela crise, mas retomar reformas que ajudam a melhorar o cotidiano das empresas, por meio de desburocratizações, melhoria de regulações e assim por diante. A guerra contra a recessão precisa ter várias frentes.
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