O ex-presidente Lula e seu filho Luiz Cláudio Lula da Silva foram denunciados pelo Ministério Público Federal por tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Investigados na Operação Zelotes, eles teriam se envolvido em negociações irregulares na compra de 36 caças suecos pelo governo brasileiro. Advogados de Lula e seu filho disseram que a denúncia é midiática e que o ex-presidente não interferiu no processo de compra dos caças.
Zelotes: Lula e filho são denunciados
• MPF vê irregularidades na compra de caças e em ajuda a montadoras, por prorrogação de benefícios
Manoel Ventura* - O Globo
-BRASÍLIA- O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília denunciou à Justiça o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A acusação atinge também o filho do petista Luiz Cláudio Lula da Silva, além do casal de lobistas Mauro Marcondes e Cristina Mautoni.
Segundo o MPF, a denúncia foi feita após as investigações vinculadas à Operação Zelotes apontarem indícios de envolvimento do petista e de seu filho, além de Mauro Marcondes e Cristina Mautoni em negociações consideradas irregulares, e que levaram à compra de 36 caças suecos do modelo Gripen NG pelo governo brasileiro. Também há indícios de irregularidades na prorrogação de incentivos fiscais a montadoras de veículos por meio de uma medida provisória.
O MPF sustenta que os crimes foram praticados entre 2013 e 2015 quando Lula, na condição de ex-presidente, integrou um esquema que “vendia a promessa” de que ele poderia interferir junto ao governo para beneficiar as empresas MMC, grupo Caoa e SAAB, clientes da empresa Marcondes e Mautoni Empreendimentos e Diplomacia (M&M). “Em troca, Mauro e Cristina, donos da M&M, repassaram a Luiz Cláudio pouco mais de R$ 2,5 milhões”, escreveram os procuradores da República Hebert Mesquita, Frederico Paiva e Anselmo Lopes.
Os procuradores sustentam que houve “uma relação triangular” formada por clientes da M&M, pelos intermediários Mauro, Cristina e Lula e também pela ex-presidente Dilma Rousseff para beneficiar os clientes dos lobistas. “Durante as investigações, não foram encontrados indícios de que a presidente tivesse conhecimento do esquema criminoso”, diz o Ministério Público.
REPASSES INICIADOS EM 2014
O MPF afirma que em 2014 foram iniciados repasses financeiros da M&M às empresas de Luiz Cláudio, filho de Lula. A denúncia cita que o filho do expresidente esteve quatro vezes na sede da M&M. E que Lula, o filho e Mauro Marcondes se encontraram, também, por quatro vezes, no Instituto Lula.
“Os encontros serviram para que fosse acertada a viabilização do pagamento das vantagens indevidas. Uma das provas é a constatação de que as minutas dos contratos foram elaboradas quase dois meses após a data informada como tendo sido a de assinatura dos documentos”, afirmam os procuradores.
A Procuradoria diz ainda que a LFT, empresa do filho de Lula, não prestou nenhum serviço à M&M. “Um relatório da Polícia Federal constatou que o material entregue pela empresa como sendo o objeto do contrato não passava de cópias disponíveis na internet, montadas após a deflagração das investigações”.
Para os procuradores “não há dúvidas de que, pelo menos a partir de setembro de 2012, Lula tinha conhecimento da estratégia utilizada por Mauro Marcondes e que viu nesse fato a oportunidade de garantir o enriquecimento do filho”. Com tal propósito, dizem os procuradores, o ex-presidente valeu-se do trabalho de funcionários do Instituto Lula que, por meio de ligações telefônicas e e-mails, filtravam as conversas. “Assim, ele não subscrevia mensagens, e os interessados num contato direto tinham que agendar encontro pessoal”, afirma a denúncia.
Na denúncia enviada à Justiça Federal, o MPF diz que o edital para a compra dos caças foi lançado em 2006, mas apenas em 2014 o governo brasileiro firmou contrato com a empresa sueca SAAB. O que se viu nesse período, dizem os procuradores, “foi uma nova investida por parte da empresa sueca que já possuía um contrato indireto com a M&M (via Quadricon) e que, em agosto de 2012, passou a trabalhar diretamente com os brasileiros”.
ADVOGADO: DENÚNCIA É FACTOIDE
Lula, que ontem recebeu a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, falou por meio de seus advogados, que, em nota, classificaram a acusação como midiática: “Nem o ex-presidente Lula nem seu filho participaram ou tiveram conhecimento de qualquer ato relacionado à compra dos caças da empresa sueca SAAB, tampouco para a prorrogação de benefício fiscais relativos à Medida Provisória nº 627/2013, convertida na Lei nº 12.973/2014. Luis Claudio recebeu da Marcondes & Mautoni remuneração por trabalhos efetivamente realizados e que viabilizaram a realização de campeonatos de futebol americano no Brasil”, diz a nota.
Procurado pelo GLOBO, o advogado de Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, Roberto Podval, afirmou que a denúncia tem motivação política, visando atingir o ex-presidente Lula.
— É um factoide do Ministério Público. O objetivo é incomodar o ex-presidente Lula e para isso o caminho era o Marcondes — disse o advogado.
A Saab, em nota, afirma que tem uma política rigorosa para regular seus negócios e relacionamentos. “Nossas operações ocorrem num ambiente de forte concorrência e, por isso, devem ser obrigatoriamente conduzidas de forma correta e com o mais alto padrão de qualidade.”
Sempre cooperamos com autoridades investigativas para garantir um negócio honesto e correto, decidido com base em qualidade e preço. Ressaltamos que não há denúncias contra a Saab ou contra qualquer um de nossos colaboradores.
(*Estagiário sob supervisão de Francisco Leali)
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