Nos últimos meses, o presidente Michel Temer (PMDB) começou a assistir à disseminação de sinais de esgotamento da boa vontade de alguns setores com seu governo, em meio à ansiedade aguda com a recessão que não parece ter fim. A divulgação dos fracos números da economia no terceiro trimestre trouxe críticas e demandas de medidas que atenuem a crise.
De pronto passaram a ser ventiladas providências, ainda que apenas balões de ensaio lançados por seus defensores, dentro e fora do governo. No Planalto estuda-se um pacote de propostas para reativação econômica no curto prazo.
O mau resultado do PIB nos últimos três meses era esperado. Os números confirmaram as expectativas pessimistas que já vinham desde setembro.
No entanto, há riscos agora mais evidentes de que a recessão venha a se aprofundar, o que pede novas precauções práticas. Além do mais, o governo ainda não entregou parte importante de seu próprio programa para a economia.
Está muito atrasada, por exemplo, a solução dos impasses nas concessões de infraestrutura a empresas endividadas ou envolvidas em processos de corrupção. Ainda não há perspectiva de encaminhamento das novas concessões e privatizações, escassos meios que restam para atrair investimento e reforçar o exaurido caixa federal.
É bom que o governo volte sua atenção para o grave problema do endividamento de empresas e famílias, um dos fatores que torna essa recessão especialmente tenebrosa. A medida fundamental a esse respeito, contudo, está, em tese, fora de sua alçada: o Banco Central precisaria acelerar as reduções da taxa básica de juros.
Quanto aos balões de ensaio, por ora são providências duvidosas. Estuda-se autorizar saques do FGTS a fim de que cidadãos quitem dívidas, medida que em tese faz sentido, embora não mereça discussão enquanto não forem apresentados números e condições.
Há rumores também sobre a liberação de parte do dinheiro dos bancos represado nos depósitos compulsórios, com a condição de que tais recursos sirvam ao refinanciamento de dívidas de famílias e empresas. Duvida-se, porém, que seja por falta de fundos bancários que escasseie o crédito na praça.
O país receberia de bom grado soluções criativas para o endividamento, desde que não desfaçam o incipiente programa de recuperação da disciplina na política econômica.
De imediato, no entanto, é preciso que se coloque em prática o programa de infraestrutura e melhoria do ambiente de negócios —até aqui atrasado e claudicante como todo o governo.
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