Por Andrea Jubé e Bruno Peres | Valor Econômico
BRASÍLIA - Com a agenda restrita a reuniões internas, o presidente Michel Temer não apareceu em público desde que retornou do recesso de Ano Novo na praia. O principal assunto das rodadas de conversas em seu gabinete, com ministros e auxiliares, é a sucessão na presidência da Câmara dos Deputados, motivo de disputa acirrada na base aliada. Para monitorar de perto a eleição, Temer decidiu não comparecer ao Fórum Econômico de Davos, que coincide com a reta final da campanha. A eleição do sucessor de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ocorre no dia 2 de fevereiro.
Um auxiliar presidencial confirma que Temer cogitou participar do foro econômico, que ocorre de 17 a 20 de janeiro, mas foi advertido que o evento estaria esvaziado porque coincide com a posse do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Contudo, importantes líderes globais confirmaram presença no fórum, como o presidente da China, Xi Jinping, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Mas Temer prefere não se afastar do Brasil em meio a disputa tão decisiva para os rumos de seu governo. Na próxima semana, ele deve convocar os ministros para reuniões setoriais a fim de definir as prioridades para 2017.
Um dos receios na disputa na Câmara é com o racha interno no próprio PMDB, onde pelo menos três deputados postulam a vaga de primeiro vice-presidente da Câmara: Lúcio Vieira Lima (BA), Fábio Ramalho (MG) e José Priante (PA).
O presidente receia uma nova divisão na bancada do PMDB, que até hoje não assimilou a escolha de um tucano - o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA) - para assumir o lugar do ex-ministro Geddel Vieira Lima, um pemedebista de raiz, na Secretaria de Governo.
Há seis meses, Temer tentou contornar, sem sucesso, a divisão da bancada diante da candidatura do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) à presidência da Câmara. Naquele embate, o governo atuou, discretamente, para tentar unir a base em torno da candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), eleito no segundo turno. O voo solo de Castro - que havia sido ministro da Saúde de Dilma Rousseff - irritou Temer, sobretudo porque o pemedebista angariou votos do PT.
Além de se preocupar com a divisão no PMDB, Temer tenta manter unido o Centrão, bloco que orbitava em torno do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso em Curitiba (PR), no âmbito da Operação Lava-Jato.
Para ampliar o espaço do Centrão, Temer cogita nomear o líder do PP, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), para o cargo de líder do governo, hoje com André Moura (PSC-SE). Em troca, o PP garantiria o apoio à reeleição de Rodrigo Maia, de interesse do governo, embora o Palácio do Planalto reafirme que Temer não vai interferir na disputa.
Ontem Temer também recebeu o líder do PR, deputado Aelton Freitas (MG). Em julho, os votos do PR em Rodrigo Maia no segundo turno foram decisivos para a eleição do deputado fluminense.
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