- Folha de S. Paulo
Esta é uma coluna aborrecida sobre um tema muito importante, especialmente para nós, brasileiros. Peço paciência ao leitor.
Na quarta-feira da semana passada (11), o IBGE divulgou a inflação do mês de dezembro, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). O mês fechou com inflação de 0,3%, 0,04 ponto percentual abaixo da expectativa de mercado. O ano fechou com inflação de 6,29%, pouco abaixo de 6,5%, limite superior da banda de tolerância em torno da meta de 4,5%.
Para termos dimensão do processo desinflacionário, basta lembrar que a inflação em 2015 foi de 10,67%. A redução da inflação foi de 4,38 pontos percentuais. A queda da inflação foi liderada pela desaceleração dos preços administrados, que rodaram em 2015 a 18,06% e a 5,50% em 2016 –recuo, portanto, de 12,56 pontos percentuais.
Dado que os preços administrados respondem por 24,17% do IPCA, a desaceleração que sofreram explica 3,04 pontos percentuais da desinflação de 4,38 pontos percentuais do IPCA cheio. A queda dos preços livres explicou somente 1,34 ponto percentual, ou pouco menos de 1/3, da redução total de 4,38 pontos percentuais.
É comum ouvirmos a afirmação, popular entre os economistas heterodoxos brasileiros, de que um choque de oferta, como é o caso do ajuste dos preços administrados que estavam atrasados, não se combate com elevação dos juros. O argumento é que a inflação dos preços administrados, assim como subiu em 2015, cairia em 2016. Não haveria necessidade de subir juros.
Essa afirmação está errada. A subida dos preços administrados gera queda de renda de todos os agentes. Estes tentarão repassar essa queda de renda para outros. Nesse cabo de guerra, o aumento dos preços administrados é repassado para os preços livres. De fato, a inflação dos preços livres subiu de 6,7% em 2014 para 8,5% em 2015. Foi a política monetária que garantiu que a recomposição dos preços administrados em 2015, que tinham sido artificialmente congelados nos anos anteriores, não transbordasse para todos os demais preços. Os preços livres fecharam 2016 em 6,5%, pouco abaixo dos 6,7% de 2014.
Parece pouco. Diante do choque de oferta representado pela recomposição dos preços administrados, não é.
Reconhecendo que boa parcela do trabalho de combate à inflação já ocorreu, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, na mesma quarta-feira da semana passada, decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, de 13,75% para 13%.
Além de o Copom estimar, com a melhor informação disponível até o momento da decisão, que a inflação fechará o ano em 4,4% –na meta, portanto–, o comitê reconheceu que a atividade econômica está pior do que o previsto. Havia motivos para ser mais cauteloso com a inflação. Boa parte do mercado esperava queda de 0,5 ponto percentual, e não de 0,75 ponto percentual. No entanto, devido à situação da atividade, o BC resolveu acelerar o passo de queda dos juros um pouco mais cedo.
Enganam-se aqueles que pensam que o BC não considera a atividade econômica no processo de tomada de decisão. O que o BC não faz é colocar o objetivo de recuperação da economia acima do objetivo de combate à inflação.
Está correto, pois a política monetária é eficaz no combate da inflação. E estabilidade de preços é a maior contribuição que o BC pode dar à política econômica para estimular o crescimento econômico no longo prazo.
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