- O Globo
Havia um vazio em Brasília e ele foi ocupado pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal. Pudera, está no Planalto o vice de uma governante deposta, cujo futuro depende de um julgamento do TSE. Do outro lado da praça, há um Senado presidido por Renan Calheiros e uma Câmara até bem pouco tempo comandada por Eduardo Cunha.
Na teoria, a posição da ministra deriva de um rodízio gregoriano. Na prática, a mineira miúda e frugal sentou-se na cadeira com disposição para iniciativas audaciosas, cenografias batidas (depois do massacre do Compaj foi a Manaus e criou um grupo de trabalho), retórica bíblica (“Quem tem fome de justiça tem pressa”) e atitudes angelicais (no dia da Criança recebeu um grupo de meninos e meninas carentes).
Em apenas cinco meses Cármen Lúcia deu nova dimensão à presidência do tribunal. Ora com frases retumbantes: “Onde um juiz for destratado, eu também sou”. Ora com raciocínios cortantes: a questão não é se devemos bloquear celulares nos presídios, eles não podem é entrar.
Sua linguagem direta serviu para expôr privilégios salariais de magistrados: “Além do teto, tem cobertura, puxadinho e sei lá mais o quê”. Piorando o estilo com pitadas de juridiquês, também disse o contrário:
“Confundir problemas, inclusive os remuneratórios, que dispõem de meios de serem resolvidos, com o abatimento da condição legítima do juiz, é atuar contra a democracia, contra a cidadania que demanda justiça, contra o Brasil que lutamos por construir”.
Em outubro a ministra recusouse a participar de uma reunião com Temer no Planalto. Em janeiro Temer foi à sua casa para discutir encrencas. O maior sinal de que Cármen Lúcia ocupou um poder vacante esteve no caso da falência do Rio de Janeiro e no bloqueio de suas contas pelo governo federal. A decisão do ministro Henrique Meirelles estava amparada na santidade dos contratos. A ministra, no plantão do recesso, concedeu uma liminar suspendendo o bloqueio e tirando a bola de ferro do tornozelo do governador Pezão. Criado o impasse, Meirelles topou sentar para conversar e, aos poucos, os dois lados vêm cedendo. Podiam ter feito isso antes.
O desembaraço e a exposição conseguidos pela ministra seriam apenas um asterisco se o nome dela não estivesse na lista de prováveis candidatos a presidente da República. Numa eventual eleição indireta para substituir Temer, com certeza. Na disputa de 2018, talvez.
A farra do FIES pode ser letal
No ano passado, Tiago Ring, um analista da Kapitalo Investimentos que acompanhava o FIES há anos, fez uma exposição sobre o programa de financiamento de estudantes com críticas à sua estrutura e aos altos e baixos das ações de empresas educacionais na Bolsa de Valores. Uma equipe da Kroton, o maior conglomerado do setor com cerca de 2 milhões de estudantes, foi à Kapitalo para rebater o trabalho de Ring, e semanas depois ele foi dispensado. Segundo a empresa informou aos repórteres Geraldo Samor e Natalia Viri, que levantaram o caso de Ring, uma coisa nada teve a ver com a outra.
Numa das lâminas de sua exposição, Ring mostrou que o governo paga as anuidades dos estudantes do Fies numa tarifa cheia, enquanto os jovens que cursam sem receber o financiamento conseguem descontos em promoções específicas. Vá lá, mas os estudantes que se declaram torcedores do São Paulo ganham descontos de 20%. Os do Internacional conseguem 10%.
O analista fez uma pergunta: “Por que é que o MEC não escreve explicitamente que o aluno FIES deve ser o aluno de menor mensalidade da classe?”
O Brasil dá certo
Uma equipe de seis jovens do ensino médio do Rio foi aceita para representar o Brasil no torneio de matemática da universidade Harvard e do Massachussetts Institute of Technology. Ele reúne centenas de estudantes de todo o mundo, inclusive os medalhistas de olimpíadas internacionais.
Competindo em certames de conhecimento, durante os últimos seis anos esses garotos conseguiram mais de cem medalhas de matemática, física, astronomia e robótica. Precisam de R$ 44 mil para custear a viagem, na qual serão acompanhados por um professor-orientador e abriram uma página no Facebook (https://www.vakinha.com.br/vaquinha/alunos-brasileiros-notorneio-de-harvard-mit). Até agora, só conseguiram R$ 7.860, mas devem chegar a Boston antes de 18 de fevereiro.
Numa época de “acidentes pavorosos”, enfim uma iniciativa maravilhosa.
Intuição
Dois dias depois do massacre do Compaj uma das autoridades federais que desceu em Manaus disse o seguinte:
"Saí de lá com uma intuição, apenas intuição, de que no meio daquele episódio estivesse embutida uma grande queima de arquivo”.
Pelo visto, não era apenas intuição. Dezoito dias antes, dois presos haviam denunciado o diretor do presídio, doutor José Carvalho, por receber mesadas da facção Família do Norte.
Os dois presos morreram.
Vigarista
O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, abateu em voo um vigarista que se fazia passar por outra pessoa, propondo a discussão de problemas como a destinação final de lixo.
O escroque subestimou o ex-senador e falou com ele ao telefone. Virgilio tem boa memória e ótimo ouvido.
Natasha &Eremildo
Madame Natasha vive no Rio e está fora da crise porque não mexe com números. Seu negócio são palavras e concedeu uma de suas bolsas de estudo ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que depois de uma conversa com o governador Pezão em torno do calote do estado, disse o seguinte:
"O Banco do Brasil está participando ativamente das negociações e vai participar dentro das possibilidades de modernização financeira que atenda a todas as normas prudenciais”.
A senhora acha que Meirelles quis dizer o seguinte: “O Banco do Brasil vai ajudar a tapar o buraco”.
Eremildo, o idiota, estava com Natasha quando ela ouviu a fala de Meirelles e acha que a senhora é uma velha implicante. Espetado em três bancos e dois cartões, o cretino pedirá a Meirelles que o inclua nessa tal “modernização financeira”.
Lula candidato
Estava escrito nos astros: Lula é candidato a presidente e se ficar inelegível jogará seu cacife na apresentação de um poste.
Milhões de pessoas detestam o “sapo barbudo” de Leonel Brizola, e a “metamorfose ambulante”, segundo sua própria definição. Mesmo assim, convém que, detestando-o, ouçam o que ele diz em seus comícios.
Lula não será candidato cavalgando suas virtudes, mas montado nos defeitos de seus adversários.
Mentiras impressas
Poucas vezes a imprensa mentiu tanto como no período que antecedeu a invasão do Iraque, em 2003.
Agora, num lance pitoresco sabe-se que antes de ser enforcado, em 2006, Saddam Hussein gozou seus interrogadores da CIA informando que nunca teve sósias.
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