Por Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - Em um discurso em que reconheceu erros, defendeu o legado do PT no governo federal e não citou a morte do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que vai se dedicar a “reconstruir e limpar” a imagem do partido em 2017. A declaração, no lançamento do 6º Congresso do PT, na capital paulista, reforça a percepção de que o petista deve suceder Rui Falcão no comando da sigla.
“Este ano quero me dedicar a reconstruir esse partido, limpar a imagem deste partido, fazer as pessoas perceberem que temos mais virtudes do que defeitos e que não temos medo de competir com ninguém, porque ninguém fez mais do que nós”, disse o ex-presidente ao defender que a nova direção aproveite o ano para rodar o país em visitas a empresários, fábricas e sindicatos.
Pré-candidato a presidente em 2018, Lula procurou em sua fala dissociar-se do governo Michel Temer ao propor mudanças na política econômica. Ele defendeu o uso de reservas internacionais para realização de investimentos em infraestrutura, o aumento endividamento público e a elevação dos aportes pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como medidas de estímulo à economia brasileira.
“Esse negócio de que não pode aumentar o endividamento não existe. Se fizer endividamento para construir ativos produtivos, você pode fazer”, afirmou o ex-presidente, acrescentando que os bancos públicos, como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, não devem buscar uma competição pelo lucro com as instituições financeiras privadas.
Ao pregar uma “nova atitude” interna e a reaproximação com o “povo” e os movimentos sociais, Lula disse que o PT não pode se limitar a ser apenas um partido de “protesto”. “Temos que recuperar o exemplo de ética que já fomos nesse país. Se fizermos isso, a gente recupera com facilidade a credibilidade. É verdade que decrescemos. Mas ninguém ocupou esse espaço”, afirmou.
Em um mea culpa, disse que o PT vive seu momento mais difícil e que essa situação também é fruto de decisões equivocadas. “Uma parte da esperança que construímos neste país virou desesperança. O que aconteceu com a companheira Dilma não foi fruto apenas dos nossos algozes. Foi fruto, quem sabe, da falta de visão nossa. O que fizemos contribuiu para enfraquecer nós mesmo diante dos nossos adversários. Possivelmente erramos no discurso, na escolha do candidato, talvez não tenhamos indicado as melhores pessoas. Algum erro nós cometemos.”
Segundo Lula, a as eleições municipais de 2016 servem de lição. “Ao agir politicamente não podemos esquecer o que aconteceu conosco nas últimas eleições. Tivemos uma derrota muita grande. Cada um tem que fazer uma reflexão profunda, para consertar os erros, para voltar despertar a sociedade.” Lula foi muito aplaudido pela militância, que o recebeu com os gritos de “Brasil, Urgente, Lula presidente” e “olé, olé, olé, olá, Lula”.
Ao abrir o 6º Congresso da sigla, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, pediu um minuto de silêncio pela morte do ministro Teori Zavacski, do STF. Após a homenagem ao magistrado, em discurso breve, Falcão afirmou que a candidatura presidencial de Lula em 2018 é uma “aspiração nacional”.
As críticas ao presidente Michel Temer, que assumiu o comando do país com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, deram o tom do ato. As reformas da Previdência e as mudanças trabalhistas foram as medidas mais alvejadas nos discursos.
Os petistas que se revezaram no microfone também defenderam o legado do partido no governo federal e prestaram solidariedade ao líder do MTST, Guilherme Boulos, que foi detido nesta semana por desobediência civil após uma ação de reintegração de posse pela Polícia Militar na zona leste da capital paulista.
Em um momento de constrangimento, militantes petistas interromperam o início do discurso do líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), com o coro de “Maia, não”. A militância rejeita a ideia, cogitada pela executiva nacional, de apoiar a recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara.
Mais cedo, em reunião da executiva, não houve consenso sobre a eleição da mesa diretora do Senado e da Câmara. A definição deve sair amanhã. A tendência é de que o diretório nacional oriente as bancadas a apoiar os candidatos governistas. Isto é, Eunício Oliveira (PMDB-CE) no Senado e Maia ou Jovair Arantes (PTB-GO), na Câmara.
Com isso, os petistas esperam manter, pelo princípio da proporcionalidade, os cargos da mesa diretora da Câmara, já que contam com a segunda maior bancada, com 57 deputados.
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