• Sinais emitidos pelo novo ocupante da Casa Branca geram dúvidas sobre manutenção de princípios e compromissos históricos da maior potência ocidental
Donald Trump assume hoje o posto de 45º presidente dos EUA, inaugurando junto com o mandato uma era mundial de incertezas. As promessas que, com ares de bufão, o republicano fez durante a campanha eleitoral foram consideradas por muitos como bravatas que não se sustentariam diante da realidade e importância do cargo. Mas os anúncios feitos antes mesmo de ocupar a Casa Branca e a montagem do primeiro escalão do gabinete parecem confirmar uma guinada radical e inédita da maior potência econômica e militar do mundo.
Na economia, por exemplo, chama a atenção o retrógrado nacionalismo populista defendido por Trump. Caminhando na direção inversa a um princípio caro aos republicanos, ele interveio na economia, ameaçando corporações com produção globalizada a reordenarem negócios para criar empregos em segmentos industriais em obsolescência nos EUA. A completar sua lógica antiglobalização, anunciou que tributará produtos de parceiros comerciais, na prática uma declaração de guerra comercial.
É má notícia num momento em que a economia mundial dá sinais ainda débeis de recuperação da crise global de 2008/9, cujo motor tem sido justamente a retomada do comércio internacional. Até mesmo Xi Jinping, presidente da China — principal alvo das medidas de Trump no comércio —, fez uma árdua defesa do livre comércio e da globalização esta semana no Fórum de Davos. Uma situação irônica, não fosse, antes, um sinal preocupante dos novos tempos à frente: um líder comunista com discurso em defesa do mercado, enquanto a maior potência ocidental, capitalista, abraça o protecionismo.
Não é só na economia que Trump inverte papéis históricos dos EUA. A crítica à imprensa livre, a defesa de técnicas de tortura em interrogatórios de suspeitos, e a ausência de um alinhamento firme às liberdades democráticas apontam para um futuro obscuro e sugerem a revisão de alianças estratégicas e históricas. Na prática, essa postura se traduziu até agora numa aproximação com a Rússia de Vladimir Putin e a promessa de revisão dos acordos militares da Otan de proteção de aliados europeus.
Outra das maiores incógnitas diz respeito à defesa do meio ambiente. Também neste campo, Trump — que não crê na teoria do aquecimento global causado pela atuação do homem — não emitiu bons sinais. A nomeação de Scott Pruitt como secretário da Agência de Proteção do Ambiente (EPA, em inglês, equivalente ao Ministério do Meio Ambiente), lobista do setor petrolífero e declarado inimigo das políticas públicas de defesa ambiental, sugere que o compromisso dos EUA assumido no Acordo de Paris também está sob risco.
O governo americano que começa hoje certamente testará os limites dos mecanismos institucionais de pesos e contrapesos da maior democracia do mundo.
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