A aceleração do ritmo de corte do juro básico decidida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) na sua primeira reunião de 2017, quando aprovou por unanimidade a redução de 0,75 ponto porcentual da taxa Selic (de 13,75% para 13% ao ano), foi uma “antecipação” do processo de alívio da política monetária recomendada pela constatação de que a recuperação da economia será mais demorada e mais lenta e pelos sinais de que a desaceleração da inflação já é um processo bastante disseminado. Estas são, em resumo, as explicações do Copom, expostas na ata de sua reunião da semana passada, para um corte da taxa básica mais profundo do que o esperado por boa parte dos economistas de instituições financeiras privadas.
A ata informa que os membros do Copom – formado pelos diretores do BC – chegaram a examinar a alternativa de corte de 0,5 ponto porcentual da Selic, como previam muitos analistas do setor privado, e indicar que poderia haver a intensificação da queda na próxima reunião. No entanto, como completa, o cenário atual “já torna apropriada a antecipação do ciclo de distensão da política monetária, permitindo o estabelecimento do novo ritmo de flexibilização”. Esse “novo ritmo” é bem mais acentuado do que o observado até a reunião da semana passada, pois, nas duas anteriores, o corte tinha sido de 0,25 ponto porcentual por vez.
Se forem mantidas as características essenciais do cenário que levou o Copom a decidir, na sua última reunião, por uma queda bem mais acentuada da Selic, deve-se manter, também, “o novo ritmo de flexibilização” anunciado na ata, o que significaria novos cortes expressivos do juro básico nos próximos meses.
A atividade econômica em níveis abaixo do que se poderia esperar e a constatação de que a retomada será mais demorada e mais “gradual” – expressão aqui empregada provavelmente com o significado de “lenta” – foram determinantes para a decisão de “antecipar” o alívio mais rápido da política monetária.
Outros fatores, obviamente, alguns positivos e negativos, compõem o cenário desenhado pelo Copom para balizar suas decisões. Do lado positivo, é destacada a acentuada queda da inflação, que no ano passado ficou em 6,29%, ainda bastante acima da meta de 4,5%, mas dentro da larga faixa de tolerância da política de metas seguida pelo BC, cujo teto é de 6,5%. É uma variação bem menor do que a de 2015, quando a inflação ficou em 10,67%.
Além da queda mais intensa nos últimos meses, os resultados recentes do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – Amplo (IPCA) do IBGE mostram outro fato positivo. São os sinais de que a desinflação se difunde para vários componentes do índice do IBGE. “Há evidências de que esse processo tenha atingido também componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”, diz a ata. Daí a previsão de que a inflação de 2017 fique em torno de 4,0% e a de 2018, em 3,4%.
Também foram considerados positivos os passos para a aprovação das reformas fiscais, mas os integrantes do Copom enfatizaram, como diz a ata, “a relevância de outras reformas no âmbito fiscal” e também daquelas que estimulem investimentos em infraestrutura para aumentar a produção, estimular ganhos de eficiência, dar maior flexibilidade à economia e melhorar o ambiente de negócios.
Em tom discreto, o Copom mostra a necessidade de reformas mais amplas e profundas, como as da Previdência, a trabalhista e outras, para dar ao País condições de, gradualmente, alcançar o nível de eficiência das economias que crescem de maneira contínua e rápida há muito tempo.
No campo das incertezas, a ata cita o cenário internacional, que, com mudanças na política econômica dos Estados Unidos ao longo do governo de Donald Trump e com decisões do FED, o banco central dos EUA, pode levar ao fim do “interregno benigno” de que o Brasil tem usufruído. Por enquanto, os efeitos do término desse “interregno”, diz a ata, “têm sido limitados”.
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