Na abertura do Fórum Econômico Mundial, segunda-feira, em Davos, Suíça, uma pesquisa apresentada pela PricewaterhouseCoopers (PwC) chamou a atenção. Realizada há 20 anos pela consultoria para medir o clima econômico e as expectativas de alguns dos mais importantes CEOs globais, a pesquisa constatou a diminuição do interesse pelo Brasil, depois de um período promissor no início da década. Para alguns analistas, o resultado indicou que o país "saiu do radar"; para outros, perdeu posições, mas continua atrativo.
A questão que levantou a polêmica perguntava aos CEOs quais três países considerava mais importantes para o crescimento de sua empresa nos próximos 12 meses, além daquele em que a companhia está baseada. Entre os dez países mais mencionados, o Brasil dividiu o sexto lugar com a Índia, com 7% das respostas. Em 2011, ano seguinte ao que marcou o espantoso crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, o país ocupou nada menos do que o terceiro lugar, com 19% das respostas, após a China com 39% e os Estados Unidos com 21%. A Índia também perdeu espaço em comparação com os 18% da pesquisa de 2011. Para completar a irônica troca de posições, lideram o ranking neste ano as economias mais desenvolvidas, lista encabeçada pelos Estados Unidos, China, Alemanha, Reino Unido e Japão.
A pesquisa mostrou também que os empresários brasileiros estão mais otimistas do que os das demais partes do planeta. O relatório da PwC sublinha que "surpreendentes" 57% dos brasileiros estão "muito confiantes no crescimento de sua companhia nos próximos 12 meses", mais do que o dobro da porcentagem encontrada na pesquisa anterior (24%). Na média global, só 38% dos entrevistados mostraram a mesma confiança. Feita no fim de 2016, a pesquisa refletiu o alívio do empresariado após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e o otimismo com o avanço das reformas econômicas, mas não capturou a revisão para baixo das previsões de crescimento a curto prazo.
Em contraste, outra pesquisa da própria PwC revela a expectativa da retomada do interesse estrangeiro pelas operações de fusões e aquisições no Brasil neste ano (Valor 18/1), diante de um ambiente mais favorável e após dois anos de queda dos negócios. O ano de 2016 registrou, na verdade, o mais baixo número de fusões e aquisições no Brasil desde 2011. Foram 740 transações, em comparação com 773 em 2015, num recuo de 4,3% na comparação anual, conforme dados de outra consultoria, a KPMG.
Não se pode negar que o investimento direto estrangeiro no Brasil é um dos poucos indicadores positivos da economia, ao lado da balança comercial. Depois de ter atingido 4,4% do PIB em 2015, o déficit em conta corrente deve ter fechado o ano passado em 1,1% do PIB e o investimento direto, 4,4%. Nos 12 meses terminados em novembro, o investimento somou US$ 78,8 bilhões, acima dos US$ 75 bilhões de 2015. A previsão de analistas (Valor 9/1) é que vai ficar ao redor de US$ 70 bilhões neste ano, enquanto o Banco Central (BC), mais otimista, espera até US$ 75 bilhões.
Apesar de quase três anos de recessão e das turbulências econômicas e políticas, juros elevados, preços dos ativos relativamente baratos e um mercado interno promissor o capital externo mantem seu interesse. Do total de investimento direto no país, uma parcela relevante refere-se a reinvestimento de lucro e a operações entre matriz e filial, que geralmente têm relação com o interesse em capturar ganhos no mercado financeiro local ou substituir as caras alternativas domésticas de crédito, não significando investimento no curto prazo. O reinvestimento de lucro aumentou 53% entre janeiro e novembro do ano passado, em relação ao mesmo período de 2015, e atingiu US$ 8,8 bilhões. As operações entre as filiais estrangeiras para a matriz no Brasil somaram US$ 15,6 bilhões no mesmo intervalo de tempo, com aumento de 18% em relação a igual período do ano anterior.
A avaliação mais sensata do quadro parece ter sido resumida pelo presidente da multinacional espanhola do setor de energia Iberdrola, Ignacio Sánchez Galán, que disse que o sentimento em relação ao Brasil não é tão bom quanto se falava há cinco anos nem tão ruim como muitos apontam agora. E, a despeito de tudo, confirmou a manutenção dos planos da empresa de investir US$ 4 bilhões no país até 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário