- Folha de S. Paulo
Os recentes massacres em presídios expõem um comportamento padrão das autoridades ao reagirem a esse tipo de crise.
De imediato, sob pressão, convocam reuniões emergenciais para ficar bem na foto. Depois, divulgam medidas recheadas de números e milhões de reais que não fazem nem cócegas no inferno que virou o precário sistema prisional do país.
E assim seguem até que logo mais o assunto seja esquecido e um novo caso ecloda com mortes, rebelião ou outro episódio de confusão em uma penitenciária superlotada.
A presidente do STF, Cármen Lúcia, por exemplo, viajou ao Amazonas e de lá saiu tratando como fato relevante a criação de um grupo de trabalho que vai monitorar a melhoria nos presídios do Estado.
O presidente Michel Temer, por sua vez, montou uma reunião no Planalto para divulgar ações que passam longe do drama de Manaus. No mesmo dia, o ministro Alexandre de Moraes (Justiça) anunciou a liberação de verba para novos presídios, que, na prática, resolvem o problema de 0,4% do deficit prisional. No dia seguinte, passou horas detalhando a jornalistas um vago e requentado plano de segurança nacional.
Ao mesmo tempo, Roraima confirmava a morte de 31 presos —assim como em Manaus, com cenas de decapitação e mutilação dos corpos.
Segundo o governo estadual, o Ministério da Justiça negou recente pedido de "urgência" para ajudar a controlar o "clima de tensão" na região gerado pelo caos carcerário.
Aliás, custa entender a estratégia política e de comunicação do governo Temer. Após um silêncio por três dias, o presidente apareceu e soltou a frase de que a matança no Amazonas foi um "acidente pavoroso".
Com gestos vacilantes e frases equivocadas, as autoridades se esquivam de um dos pilares de sustentação da falência prisional: o crescimento de facções criminosas destemidas que controlam cadeias e agem, cada vez mais, fora delas.
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