- O Globo
Circulam na internet dois vídeos com declarações atuais do ex-presidente Lula, um que é sua mensagem de fim de ano, outro, uma conversa com um grupo de correligionários, entre eles o senador Lindbergh Farias. Nelas, podemos ver como pensa o ex-presidente sobre a crise brasileira e, sobretudo, que soluções propõe para superarmos os problemas atuais.
Na conversa informal com seus seguidores, Lula faz um diagnóstico da crise que não deixa nada bem a ex-presidente Dilma Rousseff. Ele admite que o país “está quebrado” e o governo não tem capacidade de investimento, porque a arrecadação de impostos caiu. Diz, então, que a primeira solução seria aumentar os impostos, mas admite que isso não é possível.
Sugere fazer o que o presidente Michel Temer está fazendo: acabar com as desonerações que o governo Dilma concedeu a diversos setores que, segundo Lula, tiraram dos cofres da União R$ 500 bilhões. Não é um elogio à política econômica de Dilma, evidentemente.
Mas o ex-presidente vai mais adiante. Diz que outra solução seria “fazer uma dívida” de, sugere, R$ 300 bilhões, e aplicar tudo em obras de infraestrutura. Outra solução, diz ele, seria pegar uns US$ 100 bilhões de nossas reservas cambiais e investir em obras aqui no país. Muitos vão dizer que é inflacionário, adverte Lula, e logo rebate: “é inflacionário, mas eu prefiro inflação com emprego”.
Na mensagem de fim de ano, Lula volta a falar do desemprego, pede que o povo vá às ruas “para defender seus empregos”, e diz que está na hora de voltar a sonhar, como se nem ele, nem os 13 anos de governo petista, tivessem a ver com os 12 milhões de desempregados.
Lula, na gravação, defende a ampliação do crédito e dá um exemplo do que considera ser a saída para a crise: “Está devendo? Pega um novo empréstimo”. E garante que sabe do que está falando, pois diz que fez isso por 12 anos, com aumentos de salários, incluindo como seus os quatro anos da ex-presidente Dilma. E o país quebrou, como ele mesmo admite.
Quanto ao uso das reservas cambiais, a proposta é tão absurda que nem a ex-presidente Dilma topou fazer quando o PT defendeu a mesma tese em nota oficial. Na ocasião, o economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, ouvido por mim, desmontou a tese. “É mais um passe de mágica fiscal que tenta fazer de conta que é possível gastar sem ninguém pagar a conta. Conta que, já aprendemos, ou deveríamos ter aprendido, aparece daqui a pouco”. (Apareceu, e o país quebrou, segundo o próprio Lula).
Castelar lembrou que se o governo usar as reservas, transformando-a em dinheiro, “significa vender dólares no mercado local em troca de reais. Dados os valores envolvidos, significa que no curto prazo o real tenderia a se apreciar frente ao dólar (porque aumentariam a oferta de dólares e a demanda por reais), prejudicando as exportações das indústrias”.
Ao mesmo tempo, muita gente iria aproveitar a valorização do real para comprar dólares e colocar seu patrimônio fora. O setor privado ficaria com mais dólares, menos títulos públicos e a mesma quantidade de dinheiro. O Banco Central (BC) com mais títulos públicos e uma dívida maior em dinheiro. O Tesouro, com menos reservas (dólares) e mais dinheiro. O resultado final seria uma queda adicional da confiança, gerando mais queda do PIB e possivelmente mais inflação, analisou Castelar.
Do outro lado, vem a questão do que o governo faz com os reais que recebeu em troca das reservas. Se ele “tentar aquecer a economia”, significa que vai usar o dinheiro que, no fim das contas, foi emitido pelo BC para aumentar o gasto público. “Significa expansão fiscal e monetária”. Justamente o que nos levou à situação atual.
A capacidade dos líderes do PT de imputarem a outros os problemas que criaram nos 13 anos de governo revela-se agora na crise do sistema penitenciário. O presidente Michel Temer demorou a reagir, e quando o fez usou uma expressão infeliz para definir a tragédia de Manaus.
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, seguindo o que parece ser uma orientação oficial, teima em minimizar a guerra de facções criminosas, que é o grande problema para a segurança nacional. Mas é evidente que não é o governo Temer, que tem 4 meses como efetivo, o responsável pela crise penitenciária, nem pelos 12 milhões de desempregados.
Já em 2012, depois de dez anos de governos petistas, o então ministro da Justiça José Eduardo Cardozo deu uma declaração polêmica: disse que preferia morrer a ficar preso em uma de nossas penitenciárias. Quatro anos se passaram depois da declaração, e o que foi feito? O resultado está aí.
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