- Folha de S. Paulo
As "ruas" da política nacional estão meio quietas desde a campanha de deposição de Dilma Rousseff, faz quase um ano. Depois do Carnaval, haverá desfiles de manifestantes.
Será o reinício integral do ano político: protestos de rua, o pinga-fogo das delações mortais, a primeira definição da reforma da Previdência no Congresso. O restante do comitê central de Michel Temer pode ser incapacitado ou abatido por escândalos.
Para março, está marcada a saída de dois grandes blocos. O da esquerda, dia 15, contra o governo e suas reformas. O da direita, dia 26, a favor da Lava Jato e contra todos os amigos de Temer no poder, mas não contra o governo e suas reformas.
Claro que a ruína do país está em cartaz faz tempo. Mas, quando política, tem pouca direção, sentido e intensidade; não é nacional.
A ruína está nas ruas sem aspas, em presídios, nas greves locais do serviço público falido, em becos e calçadas onde cai cada vez mais gente assassinada, nos Estados em que a segurança entrou em colapso mal disfarçado.
A ruína está nas ruas na figura das pessoas que pedem comida mesmo no centro rico de São Paulo. Pela conversa, são excluídos recentes, que até outro dia tinham trabalho, não os mendigos de costume ou habitantes da cracolândia dispersados a pauladas pela cidade. Imagine-se a situação nos capões periféricos ou no Nordeste, do desemprego que mais rápido subiu no país.
Mas os partidos das "ruas" estavam um tanto quietos.
Depois da primeira onda de mutretas armadas por parlamentares a fim de fugir da polícia, houve manifestações menores em dezembro, o "Fora, Renan!".
Em setembro, as centrais sindicais ensaiaram um protesto contra Temer e seu plano econômico, um triste fiasco que apenas não foi maior porque mal foi notado.
Dessa vez, além das centrais sindicais todas, vão protestar as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular e os sindicatos dos professores. É mais forte, em tese.
No dia 8, da Mulher, professores fazem assembleias para definir uma greve nacional ao menos nos dias 15, 16 e 17. Alguns sindicatos estaduais já decidiram parar. Há 2,2 milhões de professores no ensino básico.
Pode dar em nada, dada a desarticulação da esquerda e o desastre eleitoral recente de seus partidos. Mas cresceu a revolta causada pela recessão e pela penúria dos Estados.
O Vem Pra Rua, o MBL e similares menores vão às ruas pouco depois. Pode ser um protesto para inglês ver, para constar que não deixam barato as mumunhas de seus aliados agora no poder. Ou não. Junhos de 2013 acontecem a cada duas décadas, mas o clima não está bom.
Mesmo que se confirme o fim dos anos de encolhimento da economia neste primeiro trimestre, trata-se quase de uma abstração macroeconômica, de escasso efeito concreto imediato, com exceção talvez da inflação menor.
Não há partidos e lideranças capazes de dar sentido maior e contínuo a insatisfações e revoltas. Desmobilizado, em geral, o cidadão espera aparecer um novato salvador na loteria política ou namora candidatos sociopatas das trevas.
Não quer dizer, porém, que os eventos de março sejam inócuos. Podem piorar o ar da política oficial de março, que já será empesteado.
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