Um entrevero paulistano voltou a chamar atenção para a causa e os limites do movimento Escola sem Partido, que se bate por leis em todos os níveis de governo para coibir o que considera doutrinação ideológica —esquerdista, em especial— na educação do país.
De maneira um tanto estouvada, o vereador Fernando Holiday (DEM), defensor do projeto e um dos coordenadores do Movimento Brasil Livre (MBL), decidiu fazer visitas-surpresa a escolas municipais para inspecionar o conteúdo ministrado nas salas de aula.
Se não parece ter encontrado nada de alarmante em sua vistoria, o parlamentar despertou a reação do secretário de Educação da prefeitura, Alexandre Schneider, para quem houve abuso e intimidação de professores.
O prefeito João Doria (PSDB), em vez de apoiar firmemente seu secretário, tentou acomodar a situação; o DEM, afinal, integra sua base de apoio partidário. Noticiou-se que Schneider chegou a pedir demissão, tendo depois recuado.
Previsivelmente, o episódio suscitou opiniões extremadas dos diferentes lados do debate —que é, sim, relevante, porém muitas vezes contaminado por rixas políticas e espírito revanchista.
Não resta dúvida de que haja doutrinação indevida nas escolas. E, dada a influência do pensamento de esquerda nos cursos que formam professores, excessos com esse viés não surpreendem.
Clichês de um marxismo rudimentar, aliás, não raro servem de recurso fácil a professores que mal dominam suas disciplinas. Numa aula descrita por esta Folha no ano passado, uma apresentação sobre os deuses egípcios levou a uma apologia da luta de classes.
No entanto, assim como não é possível traçar um limite claro entre a fiscalização e a intimidação, tampouco se pode estabelecer uma fronteira operacional entre a explicação, obrigatória ao docente, e a persuasão, arma do doutrinador.
Como descrever um processo histórico, por exemplo, sem atribuir-lhe nenhum tipo de carga moral? A própria escolha dos conteúdos a serem ministrados já não traz consigo um posicionamento?
Regular o que ocorre em sala de aula por meio de leis repressivas, como quer o Escola sem Partido, poria em risco a autonomia do professor e levaria à autocensura.
Eliminar toda e qualquer doutrinação é, portanto, uma impossibilidade. Reconhecê-lo não significa que não se deva tentar reduzi-la ou ao menos conter seus efeitos.
Caminhos para tal incluem investir na formação do docente, para que ele próprio deixe de ver o mundo de forma maniqueísta, e ampliar o leque de ideias a que os estudantes são expostos.
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