- O Estado de S. Paulo
O problema da corrupção e do contubérnio entre agentes políticos e interesses privados não é privilégio de um único partido, mas uma marca do modus operandi do sistema político brasileiro e de seu modelo de financiamento
A divulgação da lista dos investigados graças às delações da Odebrecht ratifica algo já sabido, ao menos por quem lia realidade com olhos enviesados: o problema da corrupção e do contubérnio entre agentes políticos e interesses privados não é privilégio de um único partido, mas uma marca do modus operandi do sistema político brasileiro e de seu modelo de financiamento.
É por isso que, além de partidos e lideranças integrantes das coalizões governamentais das Presidências petistas, destacam-se entre os indiciados membros ilustres da oposição, que obraram diligentemente pelo impeachment: estão lá PSDB, DEM e PPS. O ex-candidato presidencial tucano Aécio Neves lidera o número de inquéritos, com cinco, postando-se ombro a ombro com um indefectível governista congênito, o peemedebista Romero Jucá. Mas não estão sozinhos: fazem-se acompanhar de políticos de todos os principais partidos e de quase todos os Estados da federação, evidenciando se tratar de um problema sistêmico que unifica aliados e adversários.
Trata-se também de uma lista de nomes importantes. São os caciques os investigados, não a arraia-miúda. É por isso que a proporção de senadores atingidos é bem superior à dos deputados: 36% do Senado, contra apenas 8% da Câmara. E mesmo no caso dos deputados, são as cabeças dos partidos que entram na alça de mira. Isso gera um problema de segunda ordem: lideranças organizam bancadas, definem agendas e pautam votações. Se fragilizadas, têm seu trabalho dificultado, reduzindo a chance de aprovar matérias controversas, como as reformas hoje sob análise do Congresso.
Há três desdobramentos possíveis, não completamente excludentes. Um, a assunção de uma agenda positiva, que busque legitimação substantiva, demonstrando que mesmo políticos enrascados se preocupam com o País. Outra, uma agenda reativa, visando a “estancar a sangria” das investigações, aprovando leis autoindulgentes. Ou, simplesmente, a paralisia, jogando para futuro incerto a solução de nossos problemas prementes. Apostar num único cenário seria futurologia inconsequente. Aguardemos.
*É cientista político, professor da FGV-SP e pesquisador do CNPQ
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