- Folha de S. Paulo
Teria sido melhor para o país se Michel Temer tivesse caído após a divulgação da fatídica fita de Joesley Batista. Ainda que o áudio não tenha trazido prova insofismável de obstrução da Justiça, ele deixa claro que o presidente, ao receber Batista e não tê-lo denunciado depois de ouvir o que ouviu, conduziu-se de forma incompatível com o cargo. Vivêssemos numa democracia mais madura, Temer já seria história, especialmente quando se considera que existe um enxame de outras acusações contra ele.
Mesmo do ponto de vista estritamente econômico, penso que uma troca rápida de comando, que mantivesse o plano de reformas e as pessoas que as estão tocando, teria sido mais benéfica para o país do que a manutenção de um presidente cada vez mais desacreditado e contra o qual novas denúncias devem continuar a pingar. Só que Temer não caiu. Não caiu nem no calor dos acontecimentos, nem no posterior julgamento de sua chapa pela Justiça Eleitoral, que só precisaria ter validado alguma das infindáveis provas de abuso de poder econômico que ela mesma recolhera. Por quê?
Pelo menos numa coisa os marxistas tinham razão. A economia é muito mais decisiva para os rumos de uma nação do que a chamada superestrutura, isto é, o conjunto de ideias, sentimentos e instituições dessa sociedade. E, agora, ao contrário do que ocorreu no impeachment de Dilma Rousseff, a economia dá sinais de modesta melhora. Também ao contrário do que se passou com Dilma, o atual mandatário conserva significativo apoio parlamentar, o suficiente para protegê-lo de um processo penal, o que levaria a seu afastamento —e também de um impeachment. A menos que surja algo novo e forte contra o presidente, o mais provável é que ele conclua seu mandato.
É por essas que ainda sonho com o parlamentarismo, regime em que crises políticas como a que vivemos se resolvem com muito mais facilidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário