Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) confrontou o empresário Joesley Batista e afirmou que se reuniu com o dono da JBS e com o ex-presidente Lula, em março de 2016, para discutir o processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Em nota redigida nesta segunda (19), no complexo penal onde está preso, o ex-presidente da Câmara declarou que Joesley mentiu sobre sua relação com Lula em entrevista concedida à revista "Época", publicada neste fim de semana. Afirmou que o empresário tinha "constantes encontros" com o petista e citou uma reunião de que participou com os dois.
"Ele [Joesley] fala que só encontrou o ex-presidente Lula por duas vezes, em 2006 e 2013. Mentira! Ele apenas se esqueceu que promoveu um encontro que durou horas, no dia 26 de março de 2016, Sábado de Aleluia, na sua residência [...] entre eu, ele e Lula, a pedido de Lula, a fim de discutir o processo de impeachment [...] onde pude constatar a relação entre eles e os constantes encontros que eles mantinham", escreveu o peemedebista.
Cunha disse que o encontro com Joesley e Lula pode ser comprovado pelos seguranças da presidência da Câmara que o acompanharam na ocasião, além de registros do carro alugado para transportá-lo em São Paulo.
A assessoria do empresário afirmou, em nota, que Cunha "atribui a Joesley Batista afirmações que ele nunca fez" e que o dono da JBS apenas "destacou dois encontros com o ex-presidente Lula", mas esteve com o petista em outras ocasiões. O texto confirma que Joesley "intermediou encontros de dirigentes do PT com Eduardo Cunha".
O Instituto Lula informou que não vai comentar o relato de Cunha.
Acusado de pedir propina ao empresário, o ex-deputado ataca Joesley e demonstra ter tido com ele uma relação de intimidade. "Lamento ter exposto a minha família à convivência com esse perigoso marginal, na minha casa e na dele", afirmou.
O ex-presidente da Câmara lança dúvidas sobre a elaboração de medidas pela equipe econômica do governo Michel Temer que beneficiam a JBS, apesar das acusações feitas por Joesley contra o presidente.
"É estranho que, mesmo atacando o governo, ele ainda seja o maior beneficiário de medidas [...] tais como a MP 783 do Refis", escreveu. "Ele também é o grande beneficiário da MP 784, da leniência com o Banco Central e com a CVM, onde as suas falcatruas no mercado de capitais, as atuais e as passadas, poderão obter o perdão e ficarem impunes."
Cunha questiona: "A pergunta que não quer calar é de onde vem o poder dele, que mente, ataca o governo e ainda se beneficia dos atos do governo que o deixam mais rico e impune?"
DELAÇÃO
Em sua delação premiada e em entrevista à revista "Época", Joesley afirmou que comprava o silêncio de Cunha com o aval de Temer. Além disso, o empresário declarou que o ex-deputado cobrou R$ 5 milhões para evitar a abertura de uma CPI que atingiria a JBS e pediu dinheiro para liberar créditos da Caixa para a empresa.
Na nota, Cunha disse repudiar "com veemência" as acusações e desafiou o dono da JBS a provar suas afirmações.
"[Joesley] mente para obter benefícios para os seus crimes, ficando livre da cadeia, obtendo uma leniência fiada, mas desfrutando dos seus bilionários bens a vista, tais como jatos, iate, cobertura em NY, mansão em St. Barts, além de bilhões de dólares no exterior, dentre outros."
O ex-deputado reforçou seu pedido ao STF (Supremo Tribunal Federal) de anulação da delação de Joesley –em linha com o discurso do Palácio do Planalto de desqualificar o delator e os benefícios concedidos a ele.
"Espero que o STF reveja esse absurdo e bilionário acordo desse delinquente", escreveu.
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