Um tanto de ideologia e muito de indisciplina explicam por que o Brasil cultivou, a partir do avanço da indústria e da urbanização, persistentes hábitos inflacionários.
Até onde alcançam as estatísticas, o país coleciona índices de preços elevados desde meados do século 20, resultantes da expansão do gasto público —a aumentar a demanda mais rapidamente que a oferta— e de tentativas de estimular o crescimento econômico com juros menos rigorosos.
Mas, se é verdade que a inflação brasileira permanece alta para padrões internacionais, houve progresso incontestável da política de controle monetário desde os anos 1990. As taxas desse período, ao menos, mantiveram-se baixas para as tradições domésticas.
Uma contribuição decisiva veio do regime de metas, aqui lançado em 1999, e seu princípio à primeira vista quase simplório —mas, por isso mesmo, facilmente compreensível e fiscalizável.
Entende-se que, se todos acreditam no compromisso do Banco Central com o IPCA prometido, este será referência para os reajustes de preços. Num círculo virtuoso, o BC cumpre a tarefa de modo mais fácil e reforça sua credibilidade.
O sucesso de tal política, no Brasil, ainda se mostra parcial. Em países desenvolvidos que a adotam, as metas em geral rondam os 2% anuais; mesmo emergentes como Chile e México trabalham com 3% há vários anos. Já nós estamos empacados nos 4,5% desde 2005.
É bem-vinda, pois, a intenção do governo de fixar objetivos mais ambiciosos —a começar, conforme se noticia, com 4,25% em 2019.
Quanto mais alta a taxa, mais proliferam os mecanismos formais e informais de indexação de contratos, que perpetuam a inflação. Maiores também são as tentações da permissividade, como se viu sob a gestão de Dilma Rousseff (PT), com consequências desastrosas.
Não se afigura realista perseguir uma meta de Primeiro Mundo em poucos anos. O país mal começa a superar uma recessão brutal, no que depende da queda dos juros.
A estratégia aventada pela equipe econômica, corretamente, nada tem de draconiana. Mais importante que índices e prazos, de todo modo, será a persistência na busca de taxas inflacionárias que não sejam embaraço às transações de empresas e consumidores.
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