- Folha de S. Paulo
O BNDES encolhe. A dieta de emagrecimento do bancão estatal é um programa dos economistas de Michel Temer, como bem se sabe. As dúvidas maiores são: 1) O motivo do ritmo do regime; 2) Se vai sobrar músculo para o banco financiar infraestrutura. Caso não sobre, quem financia? Ainda não sabemos.
O BNDES foi responsável por 59,5% da redução do total de dinheiro emprestado por bancos, nos últimos 12 meses (isto é, por esse tanto da diminuição do estoque de crédito). O estoque de empréstimos do banco cai ainda a um ritmo de 14% ao ano. Nos bancos privados, a baixa é de 2,4%. Nos demais bancos públicos, de 2,3%.
Mas o banco ainda é enorme, com 18,4% do total de crédito. O crédito no país ainda é mais estatizado que no final de Dilma 1. Os bancos públicos têm 55,6% do total do dinheiro emprestado; em 2014, tinham 53,8%. No final de Lula 2, 41,7%.
Nos últimos dez anos, o crédito do BNDES acompanhava a variação do investimento (da despesa em novas construções, equipamentos e máquinas). Exceção notável ocorreu no colapso violento mas rápido da economia de 2008-09, quando as empresas ficaram por um momento paralisadas de medo da crise mundial. Agora, o banco está fora da curva ou, melhor, com uma curva diferente por motivos mais particulares.
Com base em dados do Ipea, nota-se que a redução de investimentos no país chegou ao ritmo mais forte em abril de 2016 (no acumulado em doze meses). Ainda estamos no vermelho, mas desde então há despiora.
O fundo do poço do BNDES, banco que financia investimentos, aconteceu apenas em janeiro deste ano. A despiora é mais lenta que a dos investimentos, se não incerta. O banco está, pois, fora do ritmo da despiora do PIB, dos investimentos e do crédito de outros bancos, que decerto tratam com outro tipo de clientes e empréstimos, mas ajudam, a ilustrar um tanto do andar da carruagem.
O mercado privado de capitais está mais vivo do que o BNDES. Não se tem a pretensão aqui de identificar se a dieta do BNDES estimulou as empresas a se virarem ou se o BNDES emagreceu devido a uma nova atitude das empresas. Mas o descompasso é notável.
No primeiro semestre deste ano, as empresas levantaram cerca de R$ 88 bilhões por meio da venda de ações e títulos de dívida. O BNDES emprestou R$ 31 bilhões nesse período, uns 35% do dinheiro levantado no mercado. A relação era de uns 50% no ano passado.
A reforma da atuação do banco é, repita-se, uma atitude deliberada da equipe econômica de Temer. Aprovou-se uma lei que vai fazer as taxas básicas de empréstimos do banco convergirem com o custo de crédito para o governo, a partir de janeiro de 2018. Por uma mistura de boniteza (plano de governo) com precisão (penúria), o governo pretende raspar o caixa do banco. Mas isso é futuro.
Agora, acabou-se com a largueza com que o banco financiava grandes empresas, sob Lula 2 e Dilma 1. Mas haveria retranca excessiva?
As medidas de demanda de crédito são imprecisas e, pois, as comparações são inconclusivas, assim como conversas reservadas com o pessoal do banco. No entanto, o valor das consultas para empréstimos caiu 14% nos doze meses até setembro. As concessões de crédito do BNDES caíram 30%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário