Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - Após dificultar a vida de "outsiders" com a reforma eleitoral, o grupo de partidos de sustentação ao governo Temer tenta dar um segundo passo para evitar a perda de espaço dos atuais grupos políticos: unir suas estruturas em uma única candidatura presidencial que concentraria recursos e propaganda na TV para reduzir as chances de candidatos que se vendem como o "novo" na disputa eleitoral de 2018.
PP, DEM, PSD, SD, PR, PTB e PMDB avançaram em negociações para construir uma única candidatura presidencial. Seria, nas palavras de integrantes dessas legendas, a "reação da política tradicional" ao discurso da renovação ou dos "radicalismos". Num primeiro momento, o grupo pretende enfraquecer as candidaturas de centro e direita, como a do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ, mas a caminho de se filiar no PEN) e de empresários que tentem se vender como o novo.
O movimento é paralelo ao articulado pelo Palácio do Planalto, que procura um candidato da base aliada para defender o legado do presidente Michel Temer. Segundo três integrantes da cúpula desses partidos, se a popularidade do pemedebista não melhorar e a economia não "decolar", essa defesa estaria descartada e o grupo sairia com o discurso de que tirou o Brasil da crise, ao apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e garantir uma pauta de crescimento para o país.
Temer tenta capitanear esse movimento em torno de seu governo e ontem, em almoço com presidentes e ministros que representam parte dessas legendas, afirmou que é preciso manter a unidade de sua base aliada na eleição de 2018.
A ideia que impera nessas siglas é que a dispersão da base governista levará à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro ou ao surgimento de uma terceira via com o discurso contrário à política. Em todos os cenários, imaginam que perderão espaço e a agenda de reformas que defenderam com Temer.
O plano é somar a estrutura desses partidos na eleição. Com o aumento do peso das bancadas federais na distribuição do tempo de campanha na TV, aprovada em 2015, essa aliança poderia chegar à metade de toda a publicidade eleitoral na televisão. Enquanto Bolsonaro teria uma inserção (spot) de 30 segundos a cada dois dias, essa coligação teria 24. Lula ficaria com sete spots comerciais a cada dois dias se continuar só com o apoio do PT.
No bloco de propaganda de 12 minutos e 30 segundos, Bolsonaro contaria com cerca de 10 segundos (o tempo exato dependerá do número de candidaturas). Já a coligação formada pela base de Temer no Congresso poderia ocupar 50% do bloco. Tempo mais que suficiente para divulgar seu próprio candidato e desconstruir a imagem dos adversários.
Essa estratégia já ocorreu em 2014, quando Dilma concentrou 45% da propaganda na TV e usou os comerciais para expor as contradições da ex-senadora Marina Silva (Rede). Com uma fatia de apenas 8% da propaganda na TV, Marina teve dificuldade de se defender, despencou nas pesquisas e acabou fora do segundo turno.
Em 2018, Bolsonaro terá um percentual ainda menor de publicidade na TV caso não faça alianças com partidos maiores. Ele diz que pretende compensar isso com maior exposição nas redes sociais - é hoje o líder entre todos os presidenciáveis.
Mas parlamentares desse grupo apontam que, pela lei aprovada este ano, será possível impulsionar a divulgação de candidaturas nas redes sociais com dinheiro. E essa coligação teria, de longe, o maior volume de recursos após a criação do fundo eleitoral, que, somado ao fundo partidário, distribuirá R$ 3 bilhões de acordo com o tamanho de cada partido - e Bolsonaro estará em um dos menos capitalizados.
O outro ponto que pesaria, na opinião desses políticos, é o maior número de palanques regionais, com candidatos a governadores, deputados e senadores.
Desde 1994, apenas o ex-presidente Lula venceu a eleição com menos alianças que o segundo colocado - e, mesmo assim, contava com pelo menos 20% do tempo de propaganda na TV.
A principal dificuldade para manter unido esse grupo é a falta de um nome forte para presidente. Em processo de rompimento com o governo e alvo de reclamações de todos que discutem essa aliança, o PSDB está excluído das conversas. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tem conversado com representantes das siglas, mas não empolga - e patina nas pesquisas.
Os dois nomes mais citados são o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) - que não teria se entusiasmado com a ideia -, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles - que não entusiasmaria os demais. Há ainda a desconfiança de que alguns desses partidos manterão as conversas, mas, se o escolhido não se viabilizar rapidamente, pularão fora e poderão apoiar justamente os candidatos que hoje trabalham contra, Lula ou Bolsonaro.
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