- Folha de S. Paulo
Um curioso fenômeno foi registrado pouco antes do segundo turno da eleição de 2014. As expectativas da população quanto ao desempenho da economia, que rumava para a depressão inflacionária, tiveram súbita e aguda melhora.
O Datafolha, que mediu e documentou a brusca oscilação, e esta Folha, que a publicou, foram na época alvos de uma onda gigantesca de ataques, no estilo "esfole o mensageiro". Estampava-se ali a centelha de esperança popular, inoculada pelo agressivo marketing governista, sem a qual Dilma Rousseff não teria obtido os votos necessários para sua reeleição.
Como o embuste tornou-se patente logo após o pleito, a reversão das expectativas foi colossal. Em fevereiro de 2015, 81% dos eleitores brasileiros achavam que a inflação iria aumentar, mais que o triplo do indicador apurado três meses antes.
Ao longo da breve segunda gestão Dilma, o alerta inflacionário médio atingiu 77% dos consultados. Após a troca do governo, a fatia dos que preveem preços futuros em alta caiu 18 pontos percentuais.
Ainda assim, há um contraste entre, de um lado, os 60% dos brasileiros que hoje anteveem inflação em alta –ela provavelmente vai crescer, pois caminha nos níveis mais baixos em 23 anos– e, do outro, os 52% que, em média, faziam essa avaliação no primeiro mandato de Dilma, antessala de violento repique inflacionário.
O palavrório financeiro costuma chamar de "prêmio" a diferença de preço que ocorre entre dois investimentos da mesma classe. Pois aqui a política parece ter estabelecido prêmios a favor do governo em outubro de 2014, e contra ele agora.
As expectativas para a economia, que já iniciou retomada cíclica, descolam-se do desdobramento provável. Dilma ofereceu esperança efêmera daquela feita. Hoje a rejeição a Michel Temer desloca as conjecturas sobre o futuro para baixo da linha projetada da atividade econômica.
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