- Valor Econômico
Opções são as mesmas, apesar do desejo de renovação
O PSDB queimou a ponte atrás de si. O seu candidato à Presidência está definido. É Geraldo Alckmin, que pagou para ver as cartas do PMDB comandado por Michel Temer e dos tucanos que gravitam em torno do Planalto.
Não há volta. Quem quiser confrontar o governador paulista tem que abrir dissidência, achar outro partido para si ou recorrer aos préstimos do PPS para bancar um Doria para chamar de seu. Aloysio Nunes é o moicano que resiste. Arthur Virgílio rosna, mas suas ameaças só serão ouvidas se contar com o apoio do grupo derrotado.
O ministro Eliseu Padilha quis mostrar força. Deu declarações decretando o desembarque do PSDB do governo e, junto com outros governistas, tentou colocar na conta dos tucanos a paralisação da reforma da Previdência. Tem gente disposta a chamar os tucanos à responsabilidade, mas o fato é que enquanto o governo não fizer esforços reais para retomar a votação da Previdência, a paralisia persistirá. Nenhum partido da base fechou questão. Estão à espera do comando que não veio e, tudo indica, não virá.
Temer, Padilha e Moreira Franco têm preocupações mais urgentes. Para eles, a sangria ainda não foi estancada e ficar de fora do próximo governo pode não ser uma boa ideia. Blefaram, mas fora os mais envolvidos na Lava-Jato, como Aécio Neves e José Serra, além do desgaste, o governo nada tem a oferecer aos tucanos.
Tendo o PSDB definido que terá candidato próprio, resta ao triunvirato encastelado no Planalto aderir a Alckmin ou capitanear candidatura alternativa de centro-direita, reunindo PMDB, DEM, PSD ou PP. Um candidato natural desta coligação seria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Para viabilizar sua candidatura, contudo, o ministro precisa entrar em campo, fazer mais do que visitar pastores evangélicos.
Se conseguir fazer andar as reformas que quer estampar em sua plataforma eleitoral, Meirelles mostraria a que veio, realizando o sonho que acalenta desde sua aposentadoria. O ministro divisou o cavalo selado e não perdeu tempo. Veio a público para declarar que a PEC da Previdência poderia ser votada em dezembro. Rodrigo Maia jogou água na fervura, pedindo ao ministro que 'produzisse' os votos.
O coice, desferido por quem é tido e havido como seu principal cabo eleitoral, nocauteou o pré-candidato, de quem, ao longo da semana, não mais se ouviu a voz. Rodrigo Maia, contudo, voltou a falar e na sexta feira foi taxativo: 'faltam votos, muitos votos' para que a votação da Previdência possa ser retomada.
A briga que se desenha é para cachorro grande. Contam os caciques partidários, gente como Ciro Nogueira, presidente do PP, e Valdemar Costa Neto, a quem os destinos do PR seguem presos. Os dois, nos jornais de sexta-feira, anunciaram que estariam dispostos a se reaproximar do PT.
A candidatura Lula parece ser irreversível. O PT, a despeito de tudo que fez para ser um partido diferente dos demais, acabou atrelado a uma estrela solitária, a única que ainda tem algum brilho.
O partido não tem plano B. Mesmo que Lula venha a ser condenado, não restará ao partido outra opção senão a apelação ou recurso para manter viva a candidatura do líder redentor. Para o PT, também não há ponte para voltar atrás.
As pesquisas de opinião dão alento aos petistas e aos oportunistas de sempre. Não faltarão adesões. PP e PR podem tomar outro rumo, mas sempre haverá quem projete em Lula as chances da sobrevivência. Entretanto, por relevantes que possam ser as intenções de voto em Lula, os resultados colhidos pelo partido nas eleições municipais de 2016 não podem ser desconsiderados. O passivo que pesa sobre o PT é grande e não será fácil superá-lo.
Não há dúvidas que o fracasso do governo Temer ajuda Lula. Pesquisas acadêmicas mostram que a economia influi nas escolhas eleitorais. Se o PIB cresce, eleitores recompensam o governo. Se há crise, punem. A memória do eleitor tende a ser curta, isto é, importa o desempenho no último ano. Se for assim, a crise experimentada sob Dilma Rousseff seria esquecida e se as reformas de Temer e Meirelles não se materializarem, Lula sairia beneficiado.
Contudo, pesquisas deste tipo precisam ser lidas com cuidado. O peso do desempenho da economia é avaliado, com tudo o mais mantido constante - e neste tudo mais entra, direta e indiretamente, a avaliação consolidada dos candidatos e dos partidos para gerir a economia. A reputação conta.
Seja qual for o critério usado pelos eleitores, uma coisa é certa, só poderão votar nas opções que as elites partidárias lhe oferecerem. O cidadão pode querer a renovação, uma mudança radical, mas se os números programados na urna eletrônica forem os de sempre, não lhe restará senão optar entre os números que digitou no passado.
Desde 1994, as opções efetivas têm se resumido às oferecidas pelo PT e pelo PSDB. Basta olhar os resultados. O controle destes partidos sobre as preferências do eleitorado, contudo, é tênue. Não há nada que garanta que a história se repetirá. Na realidade, em mais de uma oportunidade, o resultado esteve à beira de escapar do padrão. Roseana Sarney despontou em 2002 e foi devidamente alvejada. Ciro Gomes, naquela mesma eleição, liderou as pesquisas, mas não pode ou não quis adotar a Agenda Perdida que caíra em seu colo e a hesitação lhe custou caro. O mesmo se deu com Marina Silva na última eleição: faltou acordo entre a candidata e as expectativas nela projetadas pelo eleitorado.
O espaço ocupado por Ciro e Marina continua à espera da novidade capaz de personificá-la. Ninguém precisa recorrer a big data e magos importados dos EUA para saber isto. João Doria e Luciano Huck já o ocuparam, mas ficaram pelo caminho, tão rapidamente quanto catapultados às alturas. Para preservar este espaço é preciso ser capaz de conciliar as aspirações díspares e, por vezes, inconciliáveis que lá o colocaram.
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Fernando Limongi é professor do DCP/USP e pesquisador do Cebrap.
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