Andrea Jubé, Cristiane Bonfanti e Cristiano Zaia | Valor Econômico
BRASÍLIA - Com o enterro da reforma da Previdência, a conjuntura eleitoral vai pautar as mudanças nos ministérios até abril. A negociação de votos favoráveis à proposta sai de cena para dar lugar à composição de alianças nos Estados e no plano nacional. Foi nesse contexto que o presidente Michel Temer recomendou ontem ao PTB que aguarde as alterações que fará no primeiro escalão antes de apresentar um novo nome para o Ministério do Trabalho. Também no âmbito das mudanças ministeriais, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, do PP, informou ao Planalto que permanecerá no comando da pasta.
Um mês e meio antes do prazo para que os ministros deixem os cargos para concorrer em outubro, a reforma ministerial ganha corpo em compasso acelerado. De pelo menos 13 ministros que deixarão seus postos, o destino de três auxiliares foi traçado nesta semana.
Na segunda-feira, Temer demitiu a titular dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, para empossar o subchefe de Assuntos Jurídicos, Gustavo do Vale Rocha como interino, um nome de sua máxima confiança, com o objetivo de incrementar as ações na área social e tentar alavancar a baixa popularidade presidencial.
Com a candidatura à reeleição como plano B, Temer precisa se cacifar, ao menos, como um forte cabo eleitoral. O MDB de Temer terá candidatura própria ou reivindicará a vaga de vice-presidente em uma chapa competitiva, de modo que a nomeação para ministérios servirá como moeda de troca nessas composições.
Ontem, sem o pano de fundo da articulação para obter votos para a reforma previdenciária, o desfecho da crise envolvendo a escolha de Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho foi inesperado. O PTB foi um dos primeiros partidos a recomendar o fechamento de questão a favor das mudanças na aposentadoria, de olho na posse de Cristiane, filha de Jefferson, no ministério.
Agora, próximo ao prazo de desincompatibilização, no início de abril, o partido perdeu a prerrogativa de emplacar um nome da bancada, e sequer conseguiu efetivar o interino no cargo: o secretário-executivo Helton Yomura, um nome da confiança do presidente da sigla, Roberto Jefferson.
Dessa forma, Yomura permanece na interinidade, e conforme o novo desenho da Esplanada - que está em esboço e Temer adequará à conjuntura eleitoral -, o PTB pode até mesmo perder o controle do Ministério do Trabalho.
Em outra frente, o ministro Blairo Maggi vem sendo aconselhado pela diretoria da Amaggi, empresa da qual é sócio com familiares, a não concorrer a um novo mandato de senador pelo Mato Grosso em outubro e, dessa forma, desistir da vida pública.
Blairo evita comentar o assunto, mas disse ontem ao Valor que anunciará sua decisão na segunda-feira, em uma entrevista coletiva convocada em Cuiabá (MT). "Tenho passos políticos a percorrer e pessoas com quem quero falar antes de anunciar a decisão."
Blairo teria uma reeleição fácil para o Senado em Mato Grosso, onde lidera as pesquisas de intenção de votos, e já discutiu o assunto com o Temer e com o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Com a desistência do pleito, Blairo continua este ano no ministério, onde tem uma agenda voltada para a abertura e ampliação de mercados internacionais para o agronegócio brasileiro. A partir de 2019, voltaria a se dedicar à Amaggi, trading que busca expandir sua atuação no país, mas sofre com a concorrência de gigantes globais como Cargill e Bunge.
Blairo também quer sair da linha de frente da política em função dos desgastes pessoais que vem sofrendo no âmbito de investigações criminais. Ele foi alvo de delações premiadas de executivos da Odebrecht e do ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa, que relataram supostos envolvimentos dele com esquemas de corrupção. Se desistir da candidatura, ele abre a vaga na chapa majoritária ao hoje deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT), atual líder da bancada tucana na Câmara e ex-presidente da bancada ruralista, numa composição regional.
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