Líder do MTST definirá até março seu destino político
Catia Seabra / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Existe um lugar onde Guilherme Boulos encontra entusiasmada torcida para que se filie ao PSOL e concorra à Presidência: a casa do sogro.
Coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Boulos definirá até março seu destino político. Seu sogro, o metalúrgico Stanislaw Szermeta, já é filiado ao PSOL há dez anos e diz que não há mais o que esperar. "O cavalo está arriado. Vamos sentar e vamos embora", propõe.
Pai de Natália Szermerta, com quem Boulos mora há quatro anos e tem duas filhas, "seu Stan" reconhece que "uma vitória [do genro] agora é difícil". Mas afirma ser "um processo que consolida uma política".
Segundo ele, hoje o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não tem chance" e "é o momento de aparecerem coisas novas".
"O Brasil busca uma candidatura jovem, que tenha inserção social, que saiba dialogar com amplas massas, setores diferenciados. Esse candidato é o Boulos", diz ele.
Filho de dois prisioneiros de guerra na Alemanha –pai polonês e mãe ucraniana –, Stan veio para o Brasil em 1949, aos quatro anos. Cresceu em Osasco. No fim de 1960, começou a trabalhar como eletricista em uma fábrica metalúrgica.
Integrante do movimento operário, atuou na greve de 1963 e na mobilização estudantil de Osasco. Foi preso em 1971, no Rio Grande do Sul, e submetido a tortura pela (Oban) Operação Bandeirantes. Ficou encarcerado por 16 meses.
Atuante nas greves das décadas de 70 e 80, foi dirigente regional da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e se filiou ao PT em 1986. Vinte e um anos depois, deixou o PT em meio aos desdobramentos do escândalo do mensalão. Segundo ele, as denúncias de compra de voto provocaram "um sentimento de incômodo" entre os militantes petistas.
"Mas a gota d'água foi a reforma da Previdência. O PT fez muitas concessões", queixa-se.
Stan conheceu Lula em 1977, no movimento sindical. Lula atuava em São Bernardo do Campo. Ele, em São Paulo.
Hoje aos 72 anos, defende o direito de Lula participar das eleições e afirma que seu governo atendeu a necessidades populares, como na política de reajuste do salário-mínimo e implantação de programas sociais. Lula, diz Stan, "foi o cara certo para aquele momento". Mas hoje sua "forma de negociação está ultrapassada".
"Lula é um guerreiro. Mas um guerreiro institucional, não do ponto de vista que quebra paradigmas, mas um guerreiro adaptado ao balcão de negócios", critica Stan, chamando de desnecessárias as alianças alinhavadas pelo PT à frente do Palácio do Planalto.
O metalúrgico minimiza o risco de uma filiação de seu genro ao PSOL ser encarada por militantes de esquerda como um gesto de traição, já que Boulos tem atuado como defensor da candidatura de Lula. Segundo Stan, Lula "já está com muitos problemas, tem tantos óbices".
"Existe um movimento para prender o Lula. Cada vez que o PT faz sua defesa, tem mais problema para ele. Todo mundo tira farinha do PT. Até o Ciro Gomes está tirando farinha".
Stan resiste ao argumento de que uma filiação de Boulos prejudicaria o MTST, por apagar seu caráter apartidário. "Acho que para o MTST é um ganho. Porque o MTST não está obrigado a vir para o PSOL. Mas o PSOL é obrigado a ter uma política social". Para ele, a candidatura de Boulos abre as portas do PSOL para movimentos "vivos."
Stan confessa que, para um metalúrgico formado no movimento sindical, não é fácil entender as mudanças que estão acontecendo na sociedade. Muitas delas representadas pelo genro. "Nós fomos afinando a viola. Temos boa relação".
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