Por Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - Sem perspectiva de conquistar o apoio de partidos grandes em um eventual governo, o deputado federal e presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro (RJ), aposta na eleição de militares para construir uma base mínima de sustentação no Congresso e nos Estados. Por isso o parlamentar, que é capitão do Exército, tem estimulado a participação de integrantes das Forças Armadas na disputa eleitoral.
"O partido do Exército é o Brasil. Eles [militares] nunca tiveram candidatos. Agora, querem participar do futuro da nação", defendeu Bolsonaro ao ser questionado sobre o crescente interesse de integrantes das Forças Armadas na política. A declaração ao Valor foi feita após a cerimônia que oficializou o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira no Comando Militar do Sudeste.
Na ocasião, Bolsonaro ainda reiterou a promessa de um governo composto por militares. "Não sei porque alguns têm preconceito. Até há pouco tínhamos corruptos e terroristas loteando ministérios e ninguém falava nada. Se eu chegar lá, quase a metade dos ministros, será militar, com toda a certeza. A honestidade e o patriotismo têm que valer mais para você administrar bem o país", declarou.
A lista de pré-candidatos militares não está fechada. Até o momento são 71 em 26 Estados. Por ora, o Acre é a exceção. "Criamos um grupo de WhatsApp. Alguns que não vão concorrer e eram cotados pediram para sair, enquanto outros pediram para entrar. Estamos em permanente atualização", diz o general Roberto Peternelli, responsável pelo levantamento.
Dos 71 postulantes, 25 concorrem a deputado estadual e distrital, 39 a deputado federal, dois ao Senado e três a governador (CE, DF e MA), além de Bolsonaro, que disputará o Planalto. O tenente coronel Arnoldo (PRP-DF) ainda não definiu o cargo. De olho em uma vaga na Câmara Distrital, a coronel Regina Moézia (PRP) é a única mulher na lista, que tem o PSL como principal porta-voz dos militares, com 35 pré-candidatos.
Em 2014, conforme levantamento da Revista Sociedade Militar, 23 integrantes das Forças Armadas, além de outros 20 ligados aos militares, participaram daquela eleição. Na época, apenas Bolsonaro na Câmara e dois filhos, Flávio e Eduardo - que não são militares de carreira - foram eleitos para as Assembleias do Rio e São Paulo, respectivamente.
Bolsonaro ainda pode ganhar a concorrência de outro militar na corrida presidencial. O general Antonio Hamilton Mourão filiou-se ao PRTB e é especulado como candidato a presidente em substituição a Levy Fidelix, que disputou o cargo pelo partido nas últimas duas eleições. Ambos não foram encontrados pela reportagem até o fechamento desta edição.
"Não ouvi nada sobre a candidatura do general Mourão, mas não acredito que ele disputará com o Bolsonaro. Aposto numa composição", afirma Peternelli, que aos 64 anos, tentará pela segunda vez consecutiva um mandato de deputado federal por São Paulo. Na eleição passada, obteve apenas 10,9 mil votos pelo PSC. Agora, no entanto, o cenário parece propício.
O descrédito da classe política, a ascensão de Bolsonaro nas pesquisas e a sensação de insegurança nas principais cidades do país tendem a favorecer candidatos com discurso conservador. A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de permitir que todos os militares que estiverem em serviço no dia da eleição possam votar em qualquer zona eleitoral representa outro incentivo aos integrantes das Forças Armadas.
"Sem dúvida, o apoio que Bolsonaro tem recebido nas ruas serviu de estímulo para muitos militares que decidiram concorrer", diz Peternelli. General da reserva desde 2014, após 44 anos na ativa, com passagens pelos governos de José Sarney, Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff, Peternelli é conhecido nas Forças Armadas por incentivar colegas da reserva a participarem da política.
"Estamos preparados. Temos visão administrativa. A União nos repassa dinheiro para administração de quartéis, hospitais do Exército e escolas militares", ressalta Peternelli. "Podemos ajudar em questões de defesa, segurança, saúde e educação. Passamos boa parte da carreira em cursos de especialização", acrescenta o general, que diz ser favorável à liberdade econômica, à propriedade privada e à meritocracia.
"Se isso é ser de direita, então, sou de direita". Em sua opinião, não há razão para preocupação com a investida militar na política. "Há uma desproporção de candidatos militares em relação ao total de postulantes, sobretudo se comparado com outros segmentos da sociedade. Cada setor pode ter sua representatividade no Congresso. Isso é salutar", afirma.
O general da reserva Paulo Chagas foi um dos militares que, após conversa com Peternelli, aceitou a "missão" de concorrer ao governo do Distrito Federal pelo PRP. "Nunca tive ambição política, mas entendo que o Brasil precisa neste momento de gente como nós. Há uma intervenção militar pelo voto e por quê não? Se tiver uma onda de candidatos médicos, teremos uma intervenção médica. Quem vai decidir sobre nosso sucesso são os eleitores", argumenta Chagas.
Para Chagas, os políticos perderam a confiança da população com a sucessão de escândalos de corrupção no país. Em contraste, afirma, as instituições militares seguem com prestígio em alta e reputação ilibada. "Então, é natural que fôssemos convidados e instados a participar da eleição", diz.
Peternelli dá algumas pistas sobre como os militares devem atuar no parlamento ao apontar a maioridade penal como um "escudo" para os grandes traficantes. Além disso, sugere a revisão do Estatuto do Desarmamento ao afirmar que a maioria da população fez sua escolha pelo acesso às armas no referendo de 2005, quando 63% votaram pelo "não" à proibição ao comércio de armas de fogo.
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