Governo Macri busca o socorro do FMI, o que deve levar ao endurecimento do ajuste econômico
O surpreendente pedido de ajuda do governo argentino ao Fundo Monetário Internacional (FMI), de valores e condições ainda pouco esclarecidas, pode até ter boas razões econômicas. O país vizinho ganharia fôlego para enfrentar uma crise de confiança e persistir em sua agenda de ajustes.
Do ponto de vista político, contudo, trata-se de um desastre com consequências em potencial para as eleições presidenciais do ano que vem. É um golpe duro, afinal, no prestígio da administração de Mauricio Macri, até agora saudada como reformista e responsável.
Não há dúvida de que o mandatário argentino, eleito em 2015, assumiu um país em situação ainda pior do que a brasileira —embora o desequilíbrio orçamentário seja um pouco menos acentuado lá.
No início do mandato de Macri, estavam suspensos os pagamentos da dívida externa, o que na prática impedia o acesso de governo e empresas ao mercado internacional.
As políticas populistas de Cristina Kirchner, como congelamento de tarifas públicas e subsídios de todo tipo, legaram um quadro de desordem administrativa completado pela inflação sem controle, camuflada nas estatísticas oficiais.
No atual governo, a renegociação dos compromissos com credores estrangeiros foi concluída, abrindo espaço para a captação de novos recursos nos últimos dois anos.
Mas a estratégia gradualista de ajuste, com redução de gastos e reforma da previdência modesta, foi insuficiente para reduzir o déficit das contas governamentais, que permanece em torno de 6% do Produto Interno Bruto (no Brasil, ainda são mais de 7%).
O desempenho econômico é sofrível —o PIB cresceu apenas 2,9% em 2017, recuperando com pequena folga a queda de 1,8% observada em 2016. Já a inflação continua alta demais, chegando a 25% no ano passado (calcula-se que estivesse em 40% antes). Também excessivo é o déficit nas transações de bens e serviços com o exterior, equivalente a 4,8% do PIB.
O Brasil vai bem melhor nesse quesito, com resultado negativo de apenas 0,5%. Dada a pouca dependência de capital estrangeiro, a probabilidade de se ver contaminado pela crise do país vizinho parece pequena. Entretanto pode haver queda das exportações, em especial da indústria, o que dificultaria nossa já lenta retomada.
A Argentina não está à beira da insolvência externa —dispõe de reservas de US$ 56 bilhões. Um novo financiamento do FMI teria como objetivo suprir o setor público até 2019, quando haverá eleições.
Subitamente, o pleito parece próximo demais para uma administração que agora precisará apertar o cinto com mais força, com inevitável perda de apoio político. O risco de uma recaída no populismo peronista volta a rondar o país.
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