Candidato do PSL disse não aceitar resultado diferente à sua vitória
Manoel Ventura | O Globo
BRASÍLIA — As declarações do candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, que nesta sexta-feira colocou sob suspeição o resultado das eleições, geraram críticas de cientistas políticos. Em entrevista ao programa “Brasil Urgente”, da Band, o presidenciável afirmou que não aceitará resultado que não seja favorável a ele.
Claudio Couto, professor de ciência política da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), classificou a fala do candidato do PSL como “desapreço pela democracia”.
— Isso significa o não reconhecimento do resultado que não lhe satisfaça. Significa que o desejo dele define o que é que resultado legítimo. É como dizer: “ou eu ganho ou viro a mesa. Todos os candidatos devem aceitar o resultado das urnas. Essa declaração poderia ser recebida até como ameaça. O assustador é isso ser falado do candidato que lidera as intenções de voto — disse Couto.
Bolsonaro negou, na entrevista, que a fala seja antidemocrática.
— Não posso falar pelos comandantes (militares). Pelo que vejo nas ruas, eu não aceito resultado diferente da minha eleição — disse Bolsonaro.
David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília, afirmou que falar em “ruas” é genérico.
— Essa declaração é de quem não aceita perder. O Brasil tem mais de cinco mil municípios e umas 300 cidades grandes. Ele não pode afirmar o que está acontecendo nas ruas. As ruas é muito genérico — afirmou o professor.
Para Ricardo Ismael, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o candidato está levantando críticas às urnas eletrônicas. Bolsonaro é autor de uma lei aprovada pelo Congresso para permitir a impressão do voto. A lei foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
— A questão central é a da urna eletrônica. Ele já se pronunciou sobre isso lá atrás, e está firmando essa posição. Ao mesmo tempo que quer ganhar e acha que as ruas estão nessa linha, colocando em suspeição a urna eletrônica — disse Ismael.
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