- O Globo
Em 2014, após ser alvo de intensa campanha de TV que associava sua proposta de independência do Banco Central à possibilidade de famílias ficarem sem ter o que comer, Marina Silva derreteu velozmente. Nas últimas semanas, Bolsonaro foi alvo de um intenso bombardeio dos adversários —e manteve-se inabalável do alto dos mesmos 28%, na liderança da corrida eleitoral.
A ampla campanha de artistas, brasileiras e internacionais, nas redes em torno do bordão #Elenão não impactou o eleitor que já havia escolhido o capitão reformado. Tampouco teve efeito sobre os eleitores do deputado a profusão de propagandas de Geraldo Alckmin alardeando a possibilidade de volta da CPMF e o risco de Fernando Haddad vencer Bolsonaro no segundo turno.
Desqualificando moralmente os adversários e dizendo-se alvo de perseguição da imprensa, Bolsonaro parece ter conseguido desenvolver em seus eleitores o que no meio político se chama de “efeito teflon”: nenhuma informação negativa a seu respeito “cola” para quem já aderiu. Isso garante a Bolsonaro sua presença no segundo turno. O problema do capitão reformado hoje está nos cerca de dois terços dos eleitores que não aderiram à sua campanha.
Os números divulgados pelo Datafolha ontem praticamente repetem os que já haviam aparecido na pesquisa Ibope do início da semana. A notícia mais relevante de ambas é que, embora mantenha seu apoio inabalável, Bolsonaro viu sua rejeição crescer fortemente, atingindo 46%.
As duas pesquisas também mostram que o capitão — que ontem disse que não reconheceria um resultado diferente da vitória — perde no segundo turno, fora da margem de erro, para Alckmin, Ciro Gomes e até para o petista Fernando Haddad. O ex-prefeito de São Paulo segue em rápido crescimento e ontem já tinha 22% das intenções de votos —o dobro de Ciro, que perdeu dois pontos, caindo para 11%, e quase empatou numericamente com Alckmin, que ganhou um e chegou a 10%.
Mantido o ritmo atual, não é improvável que Haddad saia do primeiro turno numericamente à frente de Bolsonaro. Só que com o crescimento da intenção de votos no petista, aumenta também sua rejeição, que já atinge 32%.
O segundo turno que se anuncia tende a ser uma disputa entre dois campos que inspiram mais rejeição que confiança. Dele, não sairá um vencedor, mas um sobrevivente. Ao que tudo indica, parte significativa da sociedade será obrigada a escolher alguém que não gosta para impedir outro, que ela desgosta ainda mais, de ganhar.
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