Bolsonaro dá declarações desencontradas sobre Previdência e impostos
O estilo informal e espontâneo certamente contribuiu para o sucesso eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL). Em menos de uma semana na Presidência, porém, manifestações simplórias e desencontradas na área econômica provocaram alarmante impressão de improviso e descompasso com sua equipe.
Foram espantosas, no primeiro exemplo, a superficialidade e a imprecisão com que abordou a reforma da Previdência, tema ao mesmo tempo explosivo politicamente e essencial para o êxito do governo.
Em entrevista ao SBT, na quinta-feira (3), afirmou de modo confuso que as idades mínimas para a aposentadoria seriam de 62 anos para os homens e 57 para as mulheres, a serem atingidas até o final de seu mandato.
Tais parâmetros não constam de nenhuma proposta ou estudo técnico conhecido. Até onde se sabe, ou se sabia, o ministro Paulo Guedes, da Economia, pretendia aproveitar o projeto do governo Michel Temer (MDB), que na sua versão atual estabelece 65 e 62 anos.
Bolsonaro tampouco foi claro a respeito das regras de transição para os segurados que já estão no mercado e sobre a que regime previdenciário se referia --se ao dos trabalhadores da iniciativa privada ou ao dos servidores públicos.
A margem para interpretação de suas palavras é tão ampla que nem mesmo há como afirmar se a reforma pretendida será mais dura ou mais branda que a de Temer. Talvez nem haja maior diferença.
Nova trapalhada se deu no dia seguinte, desta vez com impostos —outro assunto indigesto e fundamental. Bolsonaro anunciou que assinara, a contragosto, um aumento do IOF (sobre operações financeiras) para compensar subsídios às regiões Norte e Nordeste aprovados pelo Congresso.
Afirmou ainda, sem maiores detalhes, que poderia haver redução da alíquota mais alta do Imposto de Renda das pessoas físicas, de 27,5% para 25%, afetando os contribuintes com renda mensal superior a R$ 4.664,68.
No episódio, o presidente passou pelo constrangimento de ter sido desmentido tanto pelo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, como pelo secretário da Receita Federal, Marcos Cintra. Nem mesmo se entendeu, até o momento, o motivo da confusão.
Ainda na sexta-feira (4), Bolsonaro manifestou preocupação com o acordo negociado entre a Boeing e a Embraer —duas empresas privadas, embora o governo brasileiro ainda mantenha alguns poderes decisórios na ex-estatal. Foi o bastante para uma queda das ações.
Já é grave o bastante que declarações do gênero sejam motivadas por amadorismo imprudente. Com efeito, o mandatário não parece atentar para o impacto do que diz agora no comando do Executivo.
Pior será, no entanto, se estiverem a aflorar os impulsos corporativistas que exibiu ao longo de toda a sua carreira parlamentar, em flagrante contradição com a agenda liberal ambiciosa abraçada apenas na campanha eleitoral.
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