- O Globo
Um ano começa. Pessimistas e otimistas se dividem sobre para onde vai o nosso mundo.
E se o mundo que conhecemos tiver, como o ano que passou, acabado? O que a humanidade está vivendo aponta para o sucesso de um projeto ou para sua falência? Em que momento esse mundo teria começado a acabar? Quando caíram as Torres Gêmeas? Quando o sistema financeiro global desabou como elas, com igual estrondo? Quando os sistemas políticos ruíram ao peso da corrupção? Quando o deus dinheiro se tornou a divindade moderna?
Faz poucos anos os balanços otimistas ainda falavam do crescimento do número de democracias, do aumento da expectativa de vida e da escolarização feminina, das espantosas descobertas científicas e tecnológicas, do avanço dos direitos humanos no respeito à diversidade e escolhas individuais.
Eis que as democracias entram em crise de identidade. Sintoma grave, a eleição por voto democrático de personagens pouco afeitos à própria democracia. A democracia vota contra si mesma. Multiplicam-se os chefes de Estado autoritários.
A ciência e a tecnologia, tão festejadas, mostram seu lado sombrio. O escândalo da apropriação e venda de dados pessoais, envolvendo o Facebook, símbolo das alegrias da virtualidade, é exemplo de um paraíso que se esfuma.
O Acordo de Paris, tentativa global de controlar a mudança climática, tropeça na cegueira dos que a negam contra, literalmente, ventos e marés, catástrofes sucessivas.
Um combate de valores é inevitável entre as liberdades morais conquistadas nos últimos anos e uma contrarrevolução, de fundo religioso, convicta de que as liberdades são nocivas à sociedade. Em jogo, o livre viver de cada um.
Edgar Morin, que não é religioso, adverte: “As religiões dizem, sejamos irmãos para nos salvarmos. Não. Sejamos irmãos porque estamos perdidos em um universo misterioso e incompreensível.”
E há o improvável, que acontece. O ano novo será o que a humanidade fizer de si mesma e o que o improvável quiser de nós. Pelo sim e pelo não, Feliz Ano Novo.
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