Acumulam-se os sinais de que a economia terminou 2018 mais fraca do que se esperava, intensificando as expectativas para este ano. A indicação mais recente vem da indústria, cuja produção cresceu em ritmo insuficiente para ampliar a oferta de trabalho formal e reduzir de modo significativo a desocupação. Se o emprego não melhora, o consumo segue tímido, insuficiente para alavancar a produção, mesmo porque o crédito ainda está contido. São facetas de um mesmo quadro, que se retroalimentam.
A produção industrial cresceu 1,1% no ano passado, um resultado inferior à expansão de 2,5% de 2017, que encerrou um período de três anos seguidos de retração e nem de longe recuperou as quedas desses anos, de 3% em 2014, de 8,3% em 2015 e de 6,4% em 2016. O ritmo forte que marcou os primeiros meses de 2018 perdeu ímpeto após a greve dos caminhoneiros em maio e, depois, com as incertezas eleitorais que tumultuaram o segundo semestre. Mais à frente, pesou o efeito da crise na Argentina, importante comprador de manufaturados brasileiros. A atividade industrial acabou fechando o ano 2,6% abaixo do nível de junho e 16,3% inferior ao pico registrado em março de 2011, em nível semelhante ao de março de 2009.
Apenas metade dos 26 ramos investigados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram crescimento em 2018, com destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (12,6%), segmento que exerceu a maior influência positiva sobre a média global. Outras altas relevantes ocorreram em metalurgia, celulose, papel e produtos de papel, indústrias extrativas, máquinas e equipamentos, produtos farmacêuticos, coque, derivados do petróleo e biocombustíveis, produtos de metal e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos. Entre as 13 atividades em queda, o maior impacto negativo foi na produção de alimentos, que recuou 5,1%, mas também tiveram queda a confecção de vestuário e acessórios e couro, artigos para viagem e calçados.
No mercado de trabalho, houve pequena redução do desemprego, ainda assim, às custas do trabalho informal de pior qualidade. A taxa média de desocupação, apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, caiu pouco, de 12,7% em 2017 para 12,3% em 2018, com leve piora no fim do ano. O país tem 12,8 milhões de desocupados, quase o dobro do existente há quatro anos, quando atingiu a mínima histórica de 6,7 milhões. Ou seja, o número de desempregados saltou 90,3% no período.
Houve ainda uma mudança no perfil do emprego, que vai além da causada pelo avanço da tecnologia e pelas mudanças nas relações de trabalho. De acordo com a Pnad Contínua, trabalha por conta própria um quarto da população ocupada, o equivalente a 23,3 milhões de pessoas de um total de 93 milhões Têm carteira assinada 33 milhões de pessoas, número distante dos 36,6 milhões de 2014. São informais 11,2 milhões de trabalhadores. A força de trabalho subutilizada aumentou nos últimos quatro anos de 15,5 milhões para 27,4 milhões de pessoas, incluindo os 12,8 milhões de desocupados, os 4,7 milhões de desalentados e os 6,6 milhões de subocupados, que gostariam de trabalhar mais.
Apesar da expectativa de recuperação da economia neste ano, com previsão de aumento de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) ou até um pouco mais, a reativação da indústria e do mercado de trabalho não é dada como certa. A melhora da indústria vai sofrer influência da desaceleração internacional já prevista pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, do clima de guerra comercial e, especialmente, da situação econômica da Argentina. Para reduzir a dependência do mercado externo seria necessário animar o interno, o que depende, por sua vez, de uma retomada da oferta de crédito. Será necessário ainda avaliar o impacto da tragédia do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), na produção mineral e em outros setores dessa cadeia produtiva.
Quanto ao mercado de trabalho, sua reação guarda geralmente alguma defasagem em relação à recuperação da economia. Como há uma significativa capacidade ociosa, pode haver crescimento sem novas contratações, em um primeiro momento. Além disso, caso o mercado volte a contratar mais expressivamente mão de obra, o número elevado de desalentados deve engrossar o exército de desocupados, arrefecendo a queda da taxa de desemprego.
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