Devagar, quase parando, o Brasil teve um desempenho muito fraco no segundo ano da recuperação, de acordo com o primeiro balanço da economia em 2018. A produção cresceu apenas 1,15%, de acordo com o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) divulgado na sexta-feira passada. Um balanço mais completo e muito mais detalhado deverá sair no começo de março, quando os novos números do Produto Interno Bruto (PIB) forem anunciados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado geral poderá ser pouco melhor que o esboçado pelos técnicos do BC, nada mais que isso. Pelas últimas estimativas do mercado, a expansão pode ter chegado a 1,30%.
Mais de 12 milhões de desempregados ocupam o cenário de uma economia em recuperação ainda muito lenta, depois de dois anos de recessão. Em 2017, primeiro ano da retomada, o PIB cresceu 1%, de acordo com o IBGE. No começo do ano passado, economistas do setor financeiro e das principais consultorias apostavam em aceleração da atividade. Na primeira semana de janeiro, a mediana das projeções para o PIB apontou crescimento de 2,69%. Não seria um desempenho brilhante, mas o País pelo menos avançaria na ocupação da capacidade ociosa da indústria, num processo combinado com ajustes e reformas. A criação de empregos seria mais lenta, mas ganharia impulso quando a confiança de empresários, investidores e consumidores se firmasse.
Não deu certo. Durante a maior parte do ano, os indicadores mostraram resultados melhores que os de 2017, mas com indisfarçável perda de vigor. A pauta de reformas já estava emperrada, com o governo acuado por denúncias, depois do lance combinado entre procuradores da República e os irmãos Batista, controladores do Grupo J & F. Ainda assim, a inflação permaneceu controlada e a taxa básica de juros caiu em março ao patamar de 6,50%, mantido até hoje. Mas vários fatores frearam o consumo e mantiveram os empresários muito cautelosos, limitando os investimentos, as contratações de pessoal e a acumulação de estoques.
A incerteza política, a insegurança quanto à orientação econômica do governo seguinte, a crise do transporte rodoviário e também a instabilidade cambial durante a maior parte do ano frearam os negócios. Com a fraca recuperação, o desemprego continuou alto, apesar de alguma redução, e a força de trabalho se manteve amplamente subocupada. O desemprego teve um duplo papel, refletindo a baixa atividade e ao mesmo tempo limitando, por efeito retroativo, o ritmo do consumo e da produção.
Os números parciais conhecidos até agora combinam com um quadro geral de baixo dinamismo, talvez pouco melhor que o resumido nos dados do IBC-Br, como sugerem as projeções de mercado. A produção da indústria em 2018 foi apenas 1,1% maior que a do ano anterior, segundo o IBGE, e isso se deve principalmente à recuperação, ainda incompleta, do setor automobilístico.
Pelo menos na aparência, o dado mais animador é o aumento de 7,4% na produção de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. Houve algum investimento produtivo, sem dúvida, mas isso deve ser explicável principalmente pela urgência de repor meios de produção muito desgastados ou desatualizados, depois de cerca de sete anos de estagnação industrial.
As vendas do comércio varejista ajudam a entender o baixo ritmo da recuperação industrial. As necessidades do dia a dia alimentaram vendas 2,3% maiores que as de 2017. Somando-se a esse conjunto as vendas do setor de veículos e peças e as de material de construção, chega-se a um crescimento de 5% em relação ao volume do ano anterior, graças ao segmento automobilístico.
Desemprego alto, orçamento familiar ainda apertado e lenta recuperação industrial continuaram limitando a prestação de serviços. Com retração de 0,1%, o setor fechou em negativo pelo quarto ano.
Confiança será o insumo principal para maior atividade em 2019. Isso dependerá, em primeiro lugar, da aprovação, sem muita demora, de uma boa reforma da Previdência.
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