quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Mariliz Pereira Jorge - A ofensa mais antiga

- Folha de S. Paulo

O que chocou muita gente é rotina dolorosa para a maioria de nós

O espetáculo de baixeza e misoginia protagonizado por Hans River na CPI das Fake News apenas acendeu um holofote sobre o que acontece nos bastidores, nas caixas de comentários das redes sociais, em mensagens privadas de centenas de jornalistas.

O que chocou muita gente e deixou os urubus alvoroçados é rotina dolorosa para a maioria de nós.

Acredito que nenhuma de minhas colegas se acostume, embora duvide que fiquem surpresas com esse tipo de agressão. Assédio sexual e moral e insultos são expedientes comuns em nossas vidas. Todo dia alguém nos chama de puta, mas não no Congresso.

As acusações execráveis feitas a Patrícia Campos Mello ganharam contorno perigoso ao serem feitas num palco daquela importância, com a conivência de parlamentares. Dizer que uma jornalista ofereceu sexo em troca de informação é uma violência, uma tentativa de intimidar e calar não apenas ela, mas todas nós que trabalhamos na área. E isso acontece o tempo todo.

Poupo os leitores das piores nojeiras que acabo lendo, mas sintam o gostinho do que enfrentamos. Descontente com um texto, um senhor questionou como a Folha mantém uma colunista como eu. Está em seu direito. Mas vejam os comentários que se seguiram. Sexo com graúdos. A tal vitamina B. Filha ou esposa de alguém.

Não há semana que não sejamos destratadas. Recebo fotos pornográficas, provocações obscenas e todo tipo de xingamento tentando me diminuir como mulher e profissional. Quando não dei para alguém para estar onde estou, sou infantilizada. Uma bobinha que não sabe o que diz.

O que Hans River fez foi escancarar a misoginia e o desprezo que parte da sociedade tem por mulheres que se destacam. Insultou não apenas uma, mas centenas de profissionais. A maioria das pessoas faz isso por simples desprezo. River mentiu numa CPI, o que é crime. Resta saber por que e o que ele ganhou com isso.

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