Amei-te sempre como a um cão de guarda
simplório e manso na calçada azul
de minha pátria pouco afeita à guerra:
se vai passando alguma nau ligeira
ou ligeiro avião, teu leve sono
quase vigília as pálpebras descerra
- tal o cachorro atento, ao pé do dono -
mas reconhece o amigo e a mesma paz
pousa na cruz dos rumos cardinais...
Querem-te entanto por mastim nervoso
com intranquilas orelhas de arame
girando sobre a rosa dos caminhos:
desconfiarás, servindo a gente estranha,
do azul celeste e desse azul mais fundo
que há séculos de séculos te banha.
Já te imagino triste bicho acuado
no mapa e no binóculo, adivinho
tua pétrea epiderme aberta ao berne
da guerra e seus petrechos e pretextos:
se algum dos teus se aproximar à antiga,
já te escuto ladrar "são inimigos"...
Assim te ensinam e hás de aprender bem,
pois esse é um dom que os mercenários têm.
Publicado no livro Operário do canto (1959).
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