- Folha de S. Paulo
Se for preciso uma crise econômica para afastar um presidente, há uma a caminho
Em sua guerra contra o Brasil e a favor de si mesmo, Jair Bolsonaro conta com o apoio de seus familiciares, meia dúzia de generais bovinos, uma rede digital clandestina de propaganda e auxiliares robotizados como Abraham Weintraub ou oportunistas como Sergio Moro. É material humano de encomenda para quem quer se sustentar no poder, mas não para administrar um país. Aliás, o desprezo de Bolsonaro pela administração se revela na maneira airosa e piadista com que trata os problemas.
Escorado numa massa de seguidores narcotizados pela ideologia, Bolsonaro sente-se forte para ignorar, ofender ou humilhar congressistas, juízes, investidores, jornalistas, chefes de Estado, economistas, diplomatas, servidores públicos, intelectuais, artistas, professores, estudantes, mulheres, minorias sexuais, indígenas, ambientalistas, portadores de HIV, nordestinos —a lista cresce todos os dias. É muita gente para se ter contra si, e cada membro desses grupos sociais ou categorias representa um voto —ou Bolsonaro não está exatamente preocupado com eleições?
Em contrapartida, há os grupos sociais ou categorias que ele favorece e que tem como aliados: policiais expulsos e participantes de milícias, PMs amotinados, bandidos condenados por assassinato e em liberdade, vendedores de proteção, bicheiros, fabricantes de armas, evangélicos profissionais, grileiros de terras e motoristas infratores, sem falar em ministros envolvidos em esquemas de laranjas, rachadinhas e favorecimento dos próprios negócios com dinheiro público.
Nunca um presidente se cercou de tantos elementos desse nível. Espanta que seus eleitores, tão puros de intenção, aceitem conviver com tal escória.
Nada disso, no entanto, parece bastar para um impeachment. O qual, dizem os entendidos, precisa de uma grave crise econômica para deslanchar. Bem, há uma a caminho.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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