- O Globo
Ao sonegar dados sobre a pandemia, Bolsonaro atenta contra a saúde pública e repete dois crimes da ditadura: a censura e a ocultação de cadáveres
Quase todos os líderes mundiais viram sua popularidade crescer na pandemia. Jair Bolsonaro viu a sua derreter, e agora virou refém da armadilha que montou para si.
O presidente sempre negou a gravidade da Covid-19. Chamou a doença de “gripezinha”, debochou das medidas sanitárias, comprou briga com prefeitos e governadores. Em março, ele garantiu que o país não ultrapassaria as 800 mortes. Com a conta se aproximando de 40 mil, passou a manipular as estatísticas oficiais.
No domingo, o Ministério da Saúde anunciou o registro de 1.382 óbitos em 24 horas. Pouco depois, o número encolheu para 525. Em uma hora e meia, sumiram 857 vítimas. Bolsonaro escancarou o motivo da maquiagem. Por ordem sua, a pasta começou a atrasar os boletins para esconder as mortes dos telejornais.
Ao sonegar informações, o presidente atenta contra a saúde pública e repete dois crimes da ditadura: a censura e a ocultação de cadáveres. Nos anos 70, o regime militar tentou esconder uma epidemia de meningite. Não funcionou na época e não tem chance de funcionar agora, na era da comunicação instantânea.
Numa democracia, a sociedade tem mais recursos para driblar a mentira oficial. O Congresso e o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde se ofereceram para compilar os dados. Os meios de comunicação foram mais rápidos e montaram um consórcio para fornecer números confiáveis.
Os negacionistas ainda colheram outra derrota. O empresário Carlos Wizard, que prometia recontar os mortos, desistiu de assumir um cargo em Brasília. Sua campanha contra a verdade havia começado a doer no bolso. Diante da ameaça de boicote dos consumidores, o autor de “Desperte o milionário que há em você” preferiu salvar os próprios negócios.
Preso à sua estratégia desastrada, Bolsonaro começa a ficar só. Na sexta, Donald Trump se distanciou do pupilo e citou o Brasil como exemplo a não ser seguido. Ontem um coronel surgiu na TV como a nova face do Ministério da Saúde. Vestia terno de papa-defunto e broche de caveira na lapela.
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