Os números frios do aumento do desemprego de 12,6% para 12,9% não refletem o tamanho do desastre
As crises econômicas costumam ser lentas para aparecer nos índices, mas rápidas na desestabilização da vida das pessoas. O panorama do mercado de trabalho fornecido pela pesquisa por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, referente ao trimestre de março a maio, em comparação com os três meses anteriores, é negativo, porém preocupa ainda mais quando observado em detalhes.
A taxa de desemprego subiu de 12,6%, calculados no trimestre encerrado em abril, para 12,9% em maio. Parece pouca coisa, mas no subsolo dos números há uma população de milhões de desempregados que não para de crescer. Considere-se que este índice carrega os efeitos da virtual paralisação do país, agravada a partir de março, início deste trimestre, quando foi registrada oficialmente a primeira morte pela Covid-19 no Brasil. Veio depois a sucessão de fechamentos de empresas por todo o país e de recolhimento de famílias em suas residências. Aquelas que puderam.
Os dados que o IBGE divulgou ontem fotografam apenas os primeiros impactos mais fortes da crise de saúde pública no parque produtivo e na sociedade. Mesmo assim, naquele trimestre 7,8 milhões perderam o emprego. Ficou visível, em cidades como o Rio, onde há ampla informalidade, o impacto da escassez de dinheiro nas ruas — causada pela paralisação quase geral e do comércio em particular — sobre grande parte da população. Antes de qualquer ação governamental, movimentaram-se organizações sociais, formalizadas ou não, para que famílias sobrevivessem. Esta é uma história ainda a ser contada em todos os seus capítulos.
Dos milhões que ficaram sem trabalho, uma parcela não voltou a procurar emprego e por isso, por questões metodológicas adotadas não apenas no Brasil, saiu do radar que acompanha a evolução do desemprego. O entendimento dos técnicos é que, como dos 7,8 milhões que perderam o trabalho, de março a maio, havia 5,8 milhões de trabalhadores informais, uma razoável proporção deste conjunto deve ter desistido de procurar emprego, e desapareceu das estatísticas. É uma outra categoria de “invisíveis”. Faz parte da classificação dos “desalentados”, calculados pelo IBGE, nesta última Pnad, em 5,4 milhões de brasileiros. Serão mais. O crescimento do índice geral de desemprego de 12,6% para 12,9% diz mesmo pouco do que acontece.
Esta realidade está à frente de um presidente que até a prisão de Fabrício Queiroz gastava o tempo afrontando as instituições democráticas. Precisa de fato mudar de agenda, como esboça.
Ele tem a imensa tarefa de ajudar a conduzir o país por meio do mais turbulento período de sua história na economia e no plano social.
Se em condições normais um Executivo desagregador deflagraria crises, neste momento a situação se agravaria de forma imprevisível, em todos os campos. Os dados sobre desemprego demonstram.
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