Setor é, em geral, o último a reagir
O resultado negativo do setor de serviços em maio jogou um balde de água afastou de vez a chance de uma recuperação célere da economia. Dado que os serviços representam pouco mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB), os mais otimistas, que vinham embalados pelo desempenho positivo da indústria e do comércio, terão agora que assimilar a perspectiva de uma retomada lenta. Igualmente negativa é a repercussão no mercado de trabalho, pois o setor concentra os postos de trabalho da economia.
A fornada de dados da economia referentes a maio, liberada pelo IBGE, vinha dando sinais animadores, reforçando que abril foi o fundo do poço. A produção industrial registrou aumento de 0,7%. O destaque foi a recuperação do comércio. As vendas do varejo restrito saltaram 13,9% em maio, depois de terem afundado no mês anterior, favorecidas pela flexibilização das regras de distanciamento social e parcialmente sustentadas pela liberação do auxílio emergencial do governo federal. O Bradesco estima que houve um aumento relevante da massa salarial ampliada de 16% em relação a 2019, estimulando o consumo e explicando o aumento da poupança.
Na contramão dos demais setores, porém, os serviços registraram queda de 0,9% na comparação com abril. Foi o quarto mês seguido de queda, que se segue ao recuo recorde de 11,9% em abril. O setor emerge assim como um dos mais afetados pelas medidas de isolamento social - acumula agora perda de 7,6% no ano e de 2,7% em 12 meses. Segundo o IBGE, a receita nominal de serviços (que não desconta a inflação) recuou 0,7% em maio, frente ao mês imediatamente anterior, após o ajuste sazonal. Quando comparado ao mesmo mês de 2019, houve queda de 18,8%. No ano, a baixa acumulada é de 6% e, em 12 meses, de 0,1%.
Dentro do setor, porém, há diferenças. Os serviços prestados às famílias, por exemplo, cresceram 14,9% em maio, frente a abril, o melhor desempenho do leque de atividades que compõem o segmento e são acompanhadas pelo IBGE. A flexibilização das medidas de isolamento permitiu recuperação parcial das vendas no setor de alojamento e alimentação, o que inclui hotéis, restaurantes e bares, e de transportes. Mas os serviços prestados às famílias haviam recuado 62,7% nos três meses anteriores, de modo que foi recuperada apenas uma parcela pequena das perdas recentes. Outro segmento que contribuiu positivamente foi o de transporte, armazenamento e correio, com alta de 4,6%. Apenas o transporte terrestre registrou aumento de 6,6%.
O resultado final, porém, ficou negativo em consequência da retração da demanda por parte das empresas. Os serviços de tecnologia da informação e comunicação recuaram 2,5% na passagem de abril para maio. Foi o que mais pesou para a queda do setor como um todo. A demanda por atividades de limpeza de prédios e seleção de mão de obra, o que inclui profissionais especializados terceirizados, teve baixa de 3,6% em maio uma vez que muitas companhias estavam fechadas, funcionando em regime de home office, e cancelaram esse tipo de contrato. Um abrangente grupo chamado “outros serviços”, do qual fazem parte corretoras de títulos e valores mobiliários e de seguros, teve queda de 4,6% em maio, na comparação com abril.
Igualmente preocupante é o reflexo da letargia nos serviços no mercado de trabalho. Além de importante no PIB, o setor de serviços tem impacto forte no emprego. Levantamento do Banco Fator baseado em dados do Caged, mostra que era responsável por 47% do estoque de empregos formais em janeiro. De acordo com a Pnad Contínua, que inclui a informalidade, os serviços concentravam 52% da ocupação, e registraram redução de 3,1 milhões de pessoas em maio.
Junho registrou movimentação positiva em atividades como vendas de veículos, de cimento e de compras com cartões de crédito. A pesquisa Focus divulgada ontem revelou redução da retração projetada para o PIB deste ano de 6,5% para 6,1%. No entanto, pode-se esperar a partir do desempenho do setor de serviços que a recuperação não será homogênea e terá um ritmo lento. Alguns tipos de serviços não reagem imediatamente às medidas de flexibilização do isolamento social e dependem da melhoria da confiança das empresas e do aquecimento dos negócios, que devem demorar a se recuperar. Geralmente, o setor de serviços é o último a mostrar reação.
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