- Folha de S. Paulo
O escritor, ambientalista e ex-deputado plantou muitas sementes e fez a agenda ambiental avançar
O escritor, ambientalista e ex-deputado federal Alfredo Sirkis, morto num acidente de carro na semana passada, conta em seu livro mais recente, “Descarbonário”, que só se deu conta da gravidade do aquecimento global ao assistir à palestra de uma líder esquimó, em 2005, no Canadá.A esquimó relatou que os verões no Ártico estavam mais quentes e as geleiras derretendo como nunca visto. Ao final, ela perguntou à plateia:
O que será das cidades litorâneas de vocês?” Sirkis pensou no Rio de Janeiro e “a ficha caiu”. Ele, que já vinha de longa militância no setor, entendeu a centralidade da “descarbonização” do planeta, ou seja, da redução da emissão de gases que provocam o efeito estufa na atmosfera, sendo o principal deles o dióxido de carbono.
O título do livro é também um trocadilho com o nome de sua obra mais famosa, “Os Carbonários”, de 1980, em que narra seus tempos de combate à ditadura, com a participação no sequestro de dois diplomatas em troca da liberdade de presos políticos. Para Sirkis, esse era um capítulo de sua história encerrado pela Lei da Anistia. Ele a considerava definitiva e, inclusive, discordava das tentativas de revisá-la.
Sua urgência do presente era a defesa da vida no planeta. Em todos os cargos e mandatos que ocupou, buscou interlocução e soluções, no emaranhado de conflitos e interesses que se cruzam nas questões ambientais, e fez a agenda avançar em temas como: reflorestamento urbano, mobilidade, coleta de lixo, saneamento, áreas de proteção.
Uma de suas últimas contribuições, à frente do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, foi um documento alertando sobre as consequências do aquecimento global para o Brasil, se nada for feito. Sirkis enfrentou os dilemas de sua geração com desassombro e generosidade. Uma pessoa assim sempre fará falta. No Brasil atual, deixa um vácuo difícil de ser preenchido. Plantou muitas sementes. Que saibamos cultivá-las, enquanto é tempo.
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