Um
postulante a prefeito tem a obrigação de conhecer e enfrentar temas espinhosos
Paulo Maluf começou
sua carreira na ditadura. Veio a democracia, e ele se aclimatou rapidamente ao
novo ecossistema com eleições, postulando cargos a cada pleito. Recebeu de seus
adversários o apelido de “candidato competente”, pois competia, competia,
competia – e raramente ganhava. Em suas frequentes campanhas eleitorais,
ficaram famosas as propagandas de TV com imagens de túneis, pontes e viadutos,
sempre com o carimbo “obra de Maluf”. A mais famosa de todas é o elevado João Goulart,
conhecido como Minhocão, aquela aberração urbana da qual São Paulo não
consegue se livrar.
Vai
longe o tempo em que prometer obras viárias dava votos. “Viadutos apenas mudam
o lugar dos engarrafamentos. Hoje se sabe que a única solução para o caos
urbano é melhorar o transporte público”, diz Sérgio
Avelleda, professor do Insper e diretor do Ross
Center, organização internacional destinada a melhorar a vida nas cidades.
No dia 15 de novembro os brasileiros escolherão seus prefeitos. Como identificar um bom candidato no emaranhado de promessas amontoadas em lives e sabatinas? Um bom começo é descobrir os consensos inescapáveis em cada área e saber o que o candidato pensa a respeito. Na área de mobilidade urbana, o exemplo acima, há um consenso em torno do transporte público. A divergência se dá no que priorizar – ônibus? Metrô? Ciclovia? – e na melhor maneira de viabilizar o investimento.
O
propósito do podcast Estadão Cidadania – Onde Nos Entendemos, disponível a
partir de hoje nos tocadores digitais, é precisamente este. Apresentar aos
eleitores os fatos inescapáveis em cada área, ajudando a separar a conversa
séria do populismo barato. Os podcasts da série têm cerca de meia hora cada um
e se compõem de três partes. Na primeira, “Onde nos entendemos”, são
apresentados os consensos. Na segunda, “Precisamos conversar sobre”, as
divergências. Ao final, os convidados se dirigem ao eleitor de modo a
envolvê-lo no debate, além de dar dicas sobre o que deve ser levado em
consideração na hora de escolher um candidato.
O
programa de estreia fala de Educação. A convidada especial é Priscila Cruz,
diretora executiva do Todos Pela Educação. Com ela aprendemos, entre
outras coisas, que o grande consenso na área é o investimento nos professores –
em como melhorar sua formação e criar planos de carreira que façam sentido. Aí
começam as discussões. Como deve ser essa carreira? Como avaliar os
professores? Seria o caso de pagar um bônus por desempenho? Que países
desenvolveram modelos inspiradores para o Brasil? Um debate eleitoral sério
deveria contemplar essas questões, mesmo que espinhosas.
Os podcasts, apresentados por mim, reúnem um convidado externo e um jornalista especializado do Estadão. Na primeira temporada, há protagonistas da sociedade civil, como Priscila Cruz e Luiz Felipe D’Avila, especialistas que participam de redes internacionais de conhecimento, como Sérgio Avelleda, Ilona Szabó e Tomas Alvim, e políticos que conhecem o dia a dia da administração pública. Assim como uma casa precisa de alicerces, um debate de alto nível se assenta sobre fatos e dados – que um postulante a prefeito tem a obrigação de conhecer e enfrentar. Seu candidato evita temas espinhosos como avaliação de professores? Fuja. Prometeu um viaduto ligando o leste ao oeste da cidade? Não vote nele de jeito nenhum.
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