Por Alvaro Gribel (interino)
O ministro Paulo Guedes
cedeu mais uma vez à pressão por aumento de gastos. Ontem à noite, admitiu que
a PEC do Pacto Federativo vai incorporar uma emenda que permite acionar o
chamado orçamento de guerra. Na prática, se o Congresso prorrogar o estado de
calamidade no ano que vem, em função da pandemia, o governo poderá contornar o
teto de gastos para pagar o auxílio emergencial. O texto ainda não foi
apresentado, e os detalhes serão cruciais para se saber a reação do mercado,
mas economistas ouvidos pela coluna disseram de antemão que é um erro colocar
em uma legislação permanente um mecanismo que foi usado para um caso
absolutamente emergencial. Outro ponto levantado seria a forma de acionar esse
orçamento, se via conselho fiscal, com a decisão restrita a poucas pessoas, ou
via Congresso, ainda que seja como um fast track, em votação conjunta pelas
duas Casas.
É preciso encontrar uma
solução para manter o socorro aos mais vulneráveis a partir de janeiro, mas ampliar
gasto sem fonte de receita provocará aumento do endividamento do governo, e é
isso que tem pressionado as taxas de juros e estressado os indicadores
financeiros do país. O governo deveria cortar despesas, mas prefere o caminho
mais fácil de tentar contornar o teto.
Recorde em meio à crise
O comércio nunca vendeu
tanto quanto em agosto de 2020. Superou até agosto de 2014, até então o maior
nível da série medida pelo IBGE. Há várias explicações para o fenômeno, e a
principal delas é o anabolizante injetado no consumo pelo auxílio emergencial.
Um volume nunca visto e que chegou a 20 vezes o valor do Bolsa Família.
Dinheiro para baixa renda ou informais que foram impedidos de trabalhar. Além
disso, o comércio parece ter “roubado” receita de outros setores, como os
serviços que permanecem fechados. De todo modo, o objetivo do programa era esse
mesmo, manter a economia aquecida do jeito que desse.
Os números de agosto
vieram pouco acima do esperado. No varejo restrito, que exclui veículos e
materiais de construção, houve alta de 3,4% em relação a julho, com projeções
em torno de 3%. No conceito ampliado, crescimento de 4,6%, contra estimativas
de 4,1%. O Iedi apontou que os três segmentos que mais cresceram na comparação
com fevereiro, antes do início da pandemia, são os que têm relação com mudanças
de hábito no isolamento social: móveis e eletrodomésticos, 24% acima do nível
pré-crise, materiais de construção, 19,2%, e artigos de uso pessoal e
doméstico, 12,3%. O varejo também se adaptou ao às vendas eletrônicas.
“As famílias podem ter
substituído parte de seus gastos com serviços — como viagens, serviços pessoais
e de lazer, restaurantes — por consumo de bens comercializados pelo varejo”,
explicou o Instituto.
Em economia, tudo que é
artificial tende a gerar problemas à frente. Por isso, os economistas temem que
as famílias estejam usando o auxílio emergencial — que é temporário — para
fazer compras a prazo, o que deve aumentar o endividamento, com risco sobre a
inadimplência. Especialmente as vendas de móveis e eletrodomésticos preocupam.
O BC, lembra o economista Sérgio Vale, da MB Associados, registrou crescimento
nas compras com cartão de crédito e boletos bancários por famílias de menor
renda. Um problema para o pós-pandemia.
‘Não me interrompa’
No debate entre a senadora
Kamala Harris e o vice-presidente americano, Mike Pense, os momentos de maior
sucesso foram quando ela impedia a interrupção e dizia: vice-presidente, I am
speaking. O movimento feminista americano tem uma grande luta contra a
interrupção da fala da mulher pelo homem, o chamado manterrupting.
Amazônia e Pantanal
Para quem não entende a relação entre o desmatamento da Amazônia e as queimadas do Pantanal, a resposta está nos chamados “rios voadores”, explica a cientista Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul. O vapor d’água na Amazônia vira chuva em outras regiões do país e quando isso acontece em menor intensidade, como este ano, há aumento das queimadas. “A área desmatada (na Amazônia), o tempo seco e as altas temperaturas formaram um conjunto de elementos que impediu a formação de chuvas. Consequentemente, o nível dos rios não se elevou e o Pantanal não foi inundado, criando uma paisagem com matéria orgânica altamente combustível”, explicou.
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