Bolsonaro
precisa crescer nos grandes centros
De
Parauapebas, sul do Pará, a São Paulo, são 2.365 quilômetros. Segundo aplicativos,
é possível ir de carro, desde que parando apenas em pedágios, em 33 horas, pela
BR-153. Viagem dura.
Em
Parauapebas o presidente Jair Bolsonaro vive os píncaros da glória. Segundo
levantamento desta semana do Ibope, sua administração é avaliada como boa ou
ótima por 58% dos entrevistados. É uma aprovação acima da média nacional nesta
cidade de 200 mil habitantes, com PIB per capita de quase o dobro da capital
paulista, graças aos royalties pagos pela exploração mineral. O chão de
Parauapebas é o da Serra de Carajás. Seus moradores dispõem de um shopping
center, mas só 17% das residências têm ligação de esgoto.
Em
São Paulo, de acordo com o levantamento XP/Ipespe divulgado ontem pelo Valor, a soma de avaliações boa
ou ótimo do presidente da República é de 26%, um ponto percentual inferior ao
que seu candidato na cidade, Celso Russomanno, obteve.
A
candidatura de Russomanno não cumpre apenas o propósito de melar a articulação
do governador João Doria de construir uma grande aliança para enfrentar o
bolsonarismo em 2022. Ela também recebeu o apoio presidencial porque Bolsonaro
precisa melhorar seus percentuais na capital paulista. O presidente não é uma
figura popular na cidade, ainda que menos rejeitado que o governador tucano. Na
pesquisa Ipespe, 46% dos entrevistados avaliaram Bolsonaro como ruim ou
péssimo. Em Parauapebas, foram 16%. A ajuda que Bolsonaro dá a Russomanno e a
que recebe dele se equivalem.
Existe
um padrão na popularidade presidencial, quando se lê os relatórios de pesquisa
e se busca esta informação. Bolsonaro está mal nos grandes centros, sem sombra
de dúvida. Ele vai melhor em cidades um pouco menores, não exatamente pobres.
Muitas delas ligadas a atividades extrativas ou agropastoris.
Para
que não se fique apenas em São Paulo, tome-se como objeto de análise as
pesquisas feitas pelo Ibope nos últimos dez dias. A avaliação boa ou ótima de
Bolsonaro é de 18% em Salvador, 26% em Porto Alegre, 29% no Recife, 34% no Rio
de Janeiro. O ruim e péssimo, nestas cidades, somam, respectivamente, 62%, 50%,
43% e 38%. Nem mesmo em seu domicílio eleitoral Bolsonaro está bem na foto.
Daí
se entende a falta de ânimo do presidente em apoiar o seu candidato natural no
Rio de Janeiro, que seria o prefeito Marcelo Crivella. Bolsonaro precisa de
alguém que agregue para ele entre os cariocas. Não está muito em condição de
ajudar.
Bolsonaro
faz boa figura em Curitiba, onde consegue 40% de bom e ótimo, ante 34% de ruim
e péssimo, resultado bem próximo do padrão nacional. No Sul e Sudeste, é seu
melhor resultado nas capitais.
Para
superar este patamar, é preciso chegar mais perto de Parauapebas no mapa. O
presidente tem avaliação positiva grande em João Pessoa (43%), Goiânia e Palmas
(ambas com 44%).
Outra
vertente é se aproximar de Parauapebas em porte. Levantamentos em cidades como
Santos e Ribeirão Preto, grandes centros do interior, mostram Bolsonaro em
posição mais confortável do que nas capitais, mas longe ainda da registrada na
cidade paraense.
Para
o analista político da XP, Paulo Gama, a hipótese mais provável é que Bolsonaro
vive um fenômeno de troca de base, análogo ao que Lula teve em 2006. “Existe um
deslocamento claro das fontes de popularidade atuais de Bolsonaro e das que ele
tinha em 2018. Dois fenômenos coincidiram e explicam a troca de base: o
rompimento dele com a Lava-Jato, que ficou claro com a demissão de Sergio Moro,
e a criação do auxílio emergencial. Por isso ele está mais fraco nos grandes
centros e mais forte nas cidades menores”, disse.
A
sagração de Russomanno como o delfim de Bolsonaro em São Paulo é a mais
perfeita tradução do fenômeno. O deputado é forte em um eleitorado muito
sensível a promessas de ação direta do governo para o bem estar das pessoas.
Ele começou na frente e perdeu embalo em 2012 e 2016 porque PT e PSDB criaram
alternativas de peso para competir por esse eleitorado. Fernando Haddad há oito
anos e Doria há quatro.
Desta
vez, o entusiasmo nesta faixa do eleitorado por Bruno Covas e Jilmar Tatto é
bem pequeno. Guilherme Boulos é uma novidade da eleição e surpreende pela
solidez de sua largada. De acordo com o Datafolha divulgado ontem, tem 10% na
espontânea e 12% na estimulada. Não será fácil para Boulos repetir o mesmo
sucesso que obtém na classe média intelectualizada entre os seus vizinhos do
empobrecido Campo Limpo. Se for para o segundo turno - a esquerda paulistana
ficou em primeiro ou segundo lugar em todas as eleições nos últimos 32 anos -
pode ser um presente para Russomanno. Repetiria o cenário eleitoral do Rio em
2016. Russomanno seria o Crivella de São Paulo.
A
falta de adversários fortes é um lenitivo para Russomanno. Esta é uma realidade
que estaria posta com ou sem a entrada de Bolsonaro no cenário eleitoral
paulistano. O perfil de eleitorado de Russomanno é semelhante ao de Bolsonaro
hoje. É um eleitor que em alguma vez da vida votou no PT. Há um pouco de
Parauapebas nele. Nesta cidade do interior do Pará também aconteceu assim.
Em
2014 Dilma Rousseff teve por lá 45 mil votos no primeiro turno. Quatro anos
depois Haddad conseguiu 33 mil. Os tucanos e o eleitorado de Marina foram
pulverizados. Somaram 45 mil em 2014 e 3 mil em 2018. Bolsonaro recebeu 60,1
mil votos.
Governadores
em baixa
As
pesquisas recentes também mostram que a situação está difícil para os
governadores nos grandes centros urbanos. Das 11 capitais onde houve
levantamento nos últimos dez dias, em seis a reprovação supera com margem larga
a aprovação. A pior situação é a de Mauro Carlesse, em Tocantins. Somente 13%
dos pesquisados em Palmas avaliam sua administração como boa ou ótima. 44%
acham que é ruim e péssima. Dividem o segundo posto em rejeição em sua capital
o paulista João Doria (21% de bom e ótimo e 40% de ruim e péssimo) e o
pernambucano Paulo Câmara (respectivamente 19% e 40%).
*César Felício é editor de Política
Nenhum comentário:
Postar um comentário