Nesta
quarta-feira, o Parlamento
Europeu rechaçou “em seu estado atual” os termos do acordo de
livre comércio entre União
Europeia e Mercosul.
Não
é decisão que produz efeito imediato porque, para ratificação de tratados, o
Parlamento Europeu não é instância decisória da União Europeia. Mas essa
votação tem enorme influência sobre o destino do acordo, que foi fechado em
junho de 2019 depois de 20 anos de árduas negociações. Com essa rejeição, fica
mais difícil a aprovação final pelos Parlamentos dos 27 países que integram a
União Europeia e pela Comissão Europeia, formada pelos chefes de governo da
área.
Nas justificativas para a decisão tomada, o argumento central é o de que os tratados não podem respaldar a desastrada política de preservação da Amazônia pelo governo Bolsonaro.
Para
o governo brasileiro, trata-se de um falso motivo. A má vontade dos políticos
europeus, liderada pelo presidente da França, Emmanuel
Macron, é mais que tudo protecionista. Os europeus temem que a
liberação do comércio entre os dois blocos produziria invasão de produtos
agropecuários do Mercosul, o que colocaria em risco os negócios pouco
competitivos da área, sustentados artificialmente por subsídios e reservas de
mercado.
Essa
análise do governo brasileiro está correta. Desde o início das negociações,
houve enorme pressão do lobby da agricultura da União Europeia pelo fechamento
de um acordo. A crise produzida pela pandemia e as crescentes dificuldades
políticas no interior dos países mais importantes da área apenas acirraram essa
oposição.
Antes
de prosseguir, convém apontar alguns paradoxos. O primeiro deles é o de que os
argumentos contrários ao acordo de livre comércio se voltam contra a política
de Bolsonaro, cujo governo é conhecido como defensor do livre comércio.
A
oposição ao acordo por políticos da União Europeia, por sua vez, não levanta
nem a indignação do governo de Buenos Aires nem a contestação da área
diplomática da Argentina porque,
diante da grave crise cambial do país, a última coisa que o governo argentino
pretende, neste momento, é a liberação do seu comércio exterior. Ainda assim, o
governo Fernández poderá aproveitar a oportunidade para acusar o governo
Bolsonaro de ter solapado um acordo comercial estratégico e, portanto, de ter
trabalhado contra os interesses dos outros sócios do Mercosul, em consequência
de sua catastrófica política ambiental.
O
caráter inequivocamente protecionista prevalecente na União Europeia não
justifica as graves omissões e as decisões brutais do governo brasileiro na
área ambiental. O governo do Brasil não pode fugir de seus deveres na
preservação da Amazônia e em todas as outras dimensões do meio ambiente
interno, não só por uma questão de interesse nacional, mas também de
responsabilidade perante as demais nações.
Não
dá para seguir argumentando, como vêm fazendo autoridades da área do governo
Bolsonaro, que europeus, americanos e asiáticos destruíram suas florestas,
emporcalharam seus rios e poluíram o ar antes dos brasileiros e agora lhes
cobram um preço que eles próprios não se cobraram nem pagaram em seu
tempo.
Se não for capaz de manter em relação a esse assunto uma política sadia como simples consequência de convicções científicas e doutrinárias, o governo Bolsonaro terá ao menos de lutar pela preservação ambiental por mero pragmatismo. Essa decisão do Parlamento Europeu é mais uma advertência de que a deterioração ambiental no Brasil implicará perda de negócios e fechamento de empregos por aqui.
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